Animismo e desenvolvimento mediúnico na Umbanda
Animismo (do termo latino animus, “alma, vida”) abrange a crença de que não há separação entre o mundo espiritual e o mundo físico (ou material), e de que existem almas ou espíritos, não só em seres humanos, mas também em animais, plantas, rochas, características geográficas (como montanhas ou rios) ou em outras entidades do meio ambiente natural, como o trovão, o vento, a cachoeira e as sombras.
No texto abaixo, retirado da página Umbanda – Religião, Ciência e Magia e trata deste tema sob a ótica da Umbanda.
Quem se detém a estudar as obras espíritas, sejam kardecistas ou umbandistas, conclui que a totalidade dos autores afirma, categoricamente, que os médiuns completamente inconscientes são casos raros, raríssimos, sendo que muitos defendem a mediunidade consciente como perfeitamente cabível nos trabalhos de Umbanda e outros (como W. W. Matta e Silva, por exemplo), não admitem o médium consciente total, exigindo, para uma incorporação autêntica, a semi-inconsciência, onde o aparelho fica como que aturdido e sem forças para intervir naquilo que a entidade está querendo dizer.
O fato é que este ponto é um problema muito delicado para a prática da mediunidade, pois só com muita experiência conseguimos fazer com que o nosso psiquismo não interfira no trabalho dos Guias e protetores, principalmente quando o médium está lidando com pessoas de suas relações mais chegadas ou com parentes seus.
Tirar a cabeça do médium dos trabalhos do Guia é, justamente, uma das coisas mais difíceis de se conseguir quando se é novato, pois sempre acarreta dúvidas e preocupações, mormente naqueles que receiam o fantasma do animismo e da mistificação.
O mais engraçado é que pouquíssimos têm a coragem e a decência de se confessarem conscientes ou, pelo menos, semi-inconscientes, querendo todos passar por médiuns mecânicos ou inconscientes totais, o que, a meu ver, já é uma prova de deslealdade incompatível com o verdadeiro sacerdócio da missão mediúnica, na sua acepção mais profunda.
Eu mesmo, quando comecei na Umbanda, mantive a ideia, plenamente enraizada, de que mediunidade era sinônimo de “inconsciência” na hora do transe mediúnico.
Quando comecei a sentir as primeiras vibrações de aproximação das entidades, entrei em verdadeiro ESTADO DE PÂNICO, simplesmente porque, comigo, não estava acontecendo aquilo que todos em minha volta afirmavam: que eram médiuns inconscientes.
Mas não há mal que não traga um bem. Comecei a desconfiar que TODOS não fossem tão inconscientes assim, quando, em mim, a consciência estava bem presente e firme.
Só havia um recurso: estudar o assunto. Foi o que fiz, com vagar, persistência e paciência.
Hoje, com uma apreciável bibliografia à minha disposição, posso afirmar COM AUTORIDADE “que todos aqueles que se diziam “inconscientes totais” estavam “mentindo”, não sei com que intuito. A mediunidade mecânica, inconsciente, em que o aparelho fica como se estivesse em sono profundo é extremamente raro no mundo inteiro, contando-se nos dedos aqueles que verdadeiramente o são.
Na verdade, o que se passa no chamado “desenvolvimento” (palavra inadequada) é que as entidades “tomam o médium” em três fases distintas, a saber:
– Domínio das faculdades sensoriais;
– Domínio das faculdades motoras;
– Domínio das faculdades psíquicas.
As primeiras manifestações são sensoriais, isto é, o médium começa sentindo “algo de estranho”, mãos geladas, braços e pernas dormentes, frio na espinha, na cabeça, na boca do estômago, etc. É a atuação das entidades sobre os plexos nervosos, como primeiro sinal de sua aproximação.
Em seguida, as entidades passam a dominar as “faculdades motoras” e o médium sente impossibilidade de desfazer certos gestos e atitudes que ele tomou SEM SABER PORQUE, mas que não “tem forças” para impedir. Quando um Caboclo DE VERDADE prende o braço esquerdo do médium nas suas costas, imóvel, horas e horas, ou quando um Preto Velho verga as pernas do médium, este não sabe porque, mas obedece, embora esteja “consciente” de que está fazendo aquele gesto ou tomando aquela atitude.
São as suas faculdades motoras que, secundando as manifestações sensoriais estão sendo “tomadas” CADA VEZ MAIS PELA entidade, à medida que o seu organismo se prepara para a missão mediúnica.
A última faculdade a se entregar ao domínio dos Guias e protetores é, justamente, o psiquismo do médium, a sua consciência, a sua “guarda” para tudo de estranho que está acontecendo com ele. Quanto mais culto o aparelho, maior a sua resistência a entrega do seu psiquismo a atuação das entidades de incorporação.
Em primeiro lugar vem o natural e louvável auto-policiamento do médium que, quanto mais bem intencionado estiver, mais receoso ficará de estar sendo tomado por sugestões neuro-anímicas (animismo) motivadas pelo ambiente dos Terreiros.
Quanto mais ele se auto-policia, mais o seu psiquismo interfere, fazendo com que a entidade que se aproxima só consiga tomar 20% ou 30% da sua vontade.
É por isso que todo médium, seja qual for, começa muito anímico, com 10%, 20% ou 30% de incorporação e, conseqüentemente, com 90%, 80% ou 70% de interferência do seu próprio “eu” nos trabalhos do Guia.
Só com o tempo (muito tempo), à medida que o médium vai tomando ciência do “sucesso” dos trabalhos do seu Guia, é que as suas resistências psíquicas vão se quebrando e ele começa, então, a progredir na escala de incorporação, com 40% ou 50% do seu psiquismo “fora do ar””.
Os grandes estudiosos do assunto consideram 50% uma “boa incorporação”, o que nos leva a concluir que a coisa é muito séria mesmo. De 50% para cima o médium vai se apagando numa espécie de “aturdimento” crescente com a porcentagem de incorporação conseguida, isto é, de domínio da Eetidade sobre o seu psiquismo. Os grandes médiuns, que trabalham com ótimos Guias e dão boa passividade, ficam na faixa dos 70%, chegando, às vezes, aos 80%. Jamais passam de 80%.