Trocar de terreiro na Umbanda é ruim?

Trocar de terreiro na religião Umbanda é uma dúvida comum. E as dúvidas que surgem quando o desejo de trocar é iminente também geram questionamentos.

Algumas decepções (ou muitas decepções) vão se acumulando até que a pessoa sente que aquele não é mais ou seu lugar. O Pai ou Mãe de Santo “mudou” ou já não se mostra tão próximo (a) como antes; muitos médiuns incorporantes saíram, fundaram outras Casas e você fica com a impressão de que os trabalhos já não são os mesmos; você se desentendeu com alguém, seja da administração ou até mesmo com algum médium e por aí vai.

Motivos não faltam para que alguém deixe de se sentir bem em um determinado chão sagrado. Mas vamos começar atentando para esta última expressão: chão sagrado.

Se assim considerarmos o terreiro que frequentamos, possivelmente teremos um pouco mais de paciência com todas as decepções citadas no início. Afinal, somos todos humanos praticando a espiritualidade num local sagrado. Erros, dúvidas e impasses ocorrem, porém o mais importante é seguir fiel ao chão sagrado que sempre nos recebeu e nos acolheu em todos os momentos, certo?

Certo. E é isso que a maioria dos umbandistas faz.

Relevamos muitas coisas e pessoas que julgamos estarem erradas em prol do trabalho caritativo e benéfico que o terreiro oferece em nosso favor e de todos os irmãos e irmãs de fé. Mas o limite um dia pode chegar.

O solo sagrado que tanto já lhe fez bem, as amizades firmadas e as palavras de esperança e motivação ouvidas dos Guias um dia são vencidas pela necessidade da mudança. E aí as justificativas surgem com força para que haja o rompimento.

Não há problema em trocar de terreiro, mas o que devemos nos perguntar é: por que precisamos ficar buscando justificativas quando, na verdade, a própria mudança já se justifica por si mesma?

Dizem que todos chegam pela primeira vez num terreiro de Umbanda pelo amor ou pela dor. Há também os que dizem que chegamos pela dor e continuamos pelo amor. Tudo certo, é por aí mesmo. Grande parte dos umbandistas se enquadra nestas situações.

O fato é que em algum momento a dor diminui, dá uma tregua ou simplesmente é superada. O amor pela religião cresce no coração, mas muitos não conseguem fechar os olhos a situações incômodas do dia a dia no terreiro.

Ou seja: o desejo de trocar de terreiro não é falta de amor ou gratidão à Umbanda e sim um acontecimento normal da vida. O que antes era ótimo deixou de ser e, um dia, a mudança se torna iminente.

Vejam que aqui estamos falando do umbandista consulente, ou seja, das pessoas que frequentam as Giras para se consultar e conversar com os médiuns incorporados, tomar passes, descarregos energéticos e aconselhamentos. Sobre médiuns visitarem outros terreiros e até incorporarem noutras Casas, aí já é uma outra história.

Então você busca, ouve indicações, visita, passa a frequentar o novo terreiro, acha algumas coisas estranhas, outras bem legais, vai se adaptando e vai ficando. Mas vez ou outra sempre lembra da Casa anterior, de como isso ou aquilo era feito “melhor” lá do que aqui e fica na dúvida se realmente deveria ter mudado.

Por que será que isso acontece?

Trocar de terreiro: questão de confiança

Mudar envolve risco. E o risco com algo ou alguém em quem confiamos nossa espiritualidade gera ainda mais dúvidas. Confiança não é algo simples, requer tempo, aprendizado e muitos detalhes que cada um tem pra si como essenciais.

Em tempos de lacração e polarização em todas as áreas da nossa sociedade, vale dizer que o terreiro que você deixou para trás não passou a ser ruim porque você não está mais lá. Você simplesmente mudou, mas os que lá ficaram continuam felizes e confiantes nos trabalhos que se realizam naquela Casa.

E, igualmente em seu novo terreiro, não significa que só ele agora é bom, ótimo, o melhor de todos. Pode ser para você, mas para outros pode não ser.

E está tudo certo, creia!

Ao trocar de terreiro você passa a ter parâmetros de análise, vai abrir os sentidos para muitos detalhes que antes nem notava no seu antigo terreiro e, assim, passará a ter um pensamento mais crítico sobre tudo o que presenciar.

Mesmo assim, siga em frente. Dê uma chance para a sua nova escolha e não fique pensando se trocou seis por meia dúzia. Abra seu coração, converse, pergunte. Os humanos erram, mas as entidades estarão sempre ali, ensinando tanto quem incorpora quanto quem se consulta.

E saiba que nada seu (espírito, alma, etc.) ficará preso no terreiro anterior. A espiritualidade é sua e ninguém prenderá nada e nem fará nada de ruim para você.

Coloque foco no amor que existe em toda Casa de Santo, aquele desejo primordial que um dia o Pai ou a Mãe de Santo dirigente teve de abrir as portas para a comunidade. Ele ou ela ouviu um chamado no coração, aceitou esse desafio enorme e segue ali abrindo a Gira e buscando atender a todos, não importa a dúvida ou problema.

Se o seu novo terreiro faz isso, fique em paz. Este será sim um bom lugar para frequentar. Trocar de terreiro não é como trocar de camisa, mas também não é bicho de sete cabeças. Siga seu coração e sua intuição, agradecendo sempre pela Casa que antes lhe acolheu e que agora você deixa.

Todos trabalham pela Umbanda. Que assim seja (e assim será)!

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