Relacionamentos amorosos no Terreiro: pode ou não pode?

Atire a primeira pedra quem nunca soube de um Terreiro em que se formaram relacionamentos amorosos. Flertes, namoros e até casamentos surgem da interação entre os médiuns da Casa e até entre os consulentes. No entanto, aqui nosso foco será no relacionamento amoroso entre os médiuns da Casa.

A princípio, não há certo ou errado nisso, pois cada Terreiro determina como deve ser essa questão. Algumas Casas deixam as coisas mais fluídas, sem nenhum tipo de regra. Outras, ao contrário, proíbem taxativamente qualquer tipo de relacionamento amoroso. E por fim há aquelas Casas que não têm uma cartilha que normatiza a questão e que, por isso mesmo, geram dúvidas e questionamentos de vez em quando. Estas são a maioria, arriscamos dizer.

Por observação é possível afirmar que a maioria dos Terreiros permite que seu filhos e filhas namorem, mas com ressalvas (escritas ou não). O namoro é entre os indivíduos, os cidadãos. Já os filhos e filhas de de Santo são irmãos em espírito e devem procurar permanecer alheios a sentimentos conjugais como a posse, ciúmes, controle, restrições de convívio, zelo excessivo e afins.

Dentro da corrente mediúnica, a pessoa tem que se doar de forma integral e irrestrita à causa umbandista. Nada além. Foco total na Gira.

Até aí tudo perfeito, não é mesmo? Basta que os dirigentes se mantenham atentos aos casais ali formados para que não desvirtuem, mantendo assim seus trabalhos e obrigações com a Casa, mesmo com os altos e baixos comuns nos relacionamentos a dois.

Em suma, é preciso que os dirigentes fiquem de olhos bem abertos para que brigas e desavenças corriqueiras dos relacionamentos amorosos não sejam “importadas” para dentro do Terreiro.

Relacionamentos amorosos podem realmente atrapalhar as Giras?

O que interessa primordialmente é o trabalho espiritual, a Gira. E é justamente por isso que há Casas de Umbanda que proíbem todo e qualquer tipo de envolvimento amoroso entre seus filhos. Afinal, se a pessoa não tem bom senso para separar os ambientes espiritual e social, não merece ter esta liberdade e a chance de estragar uma amizade ou o bom convívio no Terreiro. Esta costuma ser a principal justificativa para a proibição.

Mas antes que pensemos que estes dirigentes são muito duros e inflexíveis, é importante levar em consideração que boa parte deles já deve ter sofrido muito com os males causados para o bom andamento das Giras em virtude das brigas de casais.

Em suma, ninguém namora um (a) irmã (a) de Santo: namora um (a) cidadã (o), alguém fora da Gira, pois dentro do Terreiro somos todos livres dessas exigências maritais, tendo apenas a necessidade de foco nos trabalhos espirituais e em tudo o que eles representam. Não confundam as coisas jamais!

Relacionamentos amorosos na Umbanda: situações a serem evitadas

  1. Namorar dentro da Gira
    Sim, acredite: há pessoas que não conseguem deixar o namoro do lado de fora da Gira. Ficam controlando os passos um do outro durante os trabalhos espirituais, deixando assim de se concentrar no axé da corrente. Ou pior: aproveitam cada intervalo para ficarem agarrados, trocando beijos diante dos irmãos e visitantes. Já há relatos de casos de um sentar no colo do outro e assim realmente não dá!
  2. Confundir a Entidade com o médium (a pessoa)
    Infelizmente acontece muito disso. A pessoa simplesmente se esquece de que nós doamos a nossa matéria para uma entidade espiritual, olhando apenas a figura e não quem a incorpora. Aí, se a entidade manifesta algum tipo de carinho por outro irmão ou visitante (o que é normal, diga-se), a pessoa cujo namorado (a) está no processo de transe encara a cena com ciúmes, gerando assim uma carga excessiva e desnecessária de energias negativas que poderão causar problemas a alguém mais tarde.
  3. Transformar as Entidades em conselheiros amorosos
    Vejam o exemplo: há uma briga de casal em casa, eles não se resolvem e também não tem maturidade suficiente para deixar as rusgas do lado de fora do Terreiro. O que acontece? Vão fazer de penico os imaculados ouvidos dos Caboclos, Pretos Velhos, Marinheiros, etc., desfiando todos os problemas de seu relacionamento amoroso. E estes, pacientemente, se deixam alugar por um tempo enorme com a intenção de desfazer o clima pesado que o casal gerou no Terreiro. E com isso as pessoas com necessidades legítimas ficam muito mais tempo na fila.
  4. Ficar se consultando com os Guias do parceiro (a)
    É uma dica que se aplica de forma semelhante ao erro número 1. Isso porque é necessária muita, muita concentração e tranquilidade para que a sintonia entre o médium e o Guia espiritual não seja quebrada, certo? Levemos em conta agora que a maioria dos médiuns são conscientes ou semiconscientes. Agora imagine como fica a cabeça de um médium quando vê o companheiro (a) diante de “seu Guia” para uma consulta. A luz vermelha do conflito de interesses acende na hora! A sintonia sofre grave abalo.
    Querem complicar mais? Combine o item 3 e o item 4: um casal que brigou em casa, chega no Terreiro e um vai reclamar para a entidade do outro sobre seus respectivos parceiros. Respondam: é seguro? Claro que não.

Assim, é importante finalizar dizendo que cada Terreiro deve ter o direito sim de estabelecer suas regras para relacionamentos amorosos, sempre buscando dar liberdade com responsabilidade a seus filhos e filhas da Casa.

Uma boa solução é criar um manual simples de boas práticas no Terreiro para os médiuns, onde este item deverá ser descrito com cuidado e grande destaque. A Umbanda evolui todos os dias e devemos evoluir junto, prevendo problemas “da carne” e assim garantindo o bom funcionamento do trabalho espiritual.

E você? Já presenciou situações como estas descritas neste texto? Conte para nós!

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