Medo e insegurança: o que acontece conosco nestas situações?
Medo e insegurança geram ansiedade e vice-versa. Esses são instintos primitivos que têm um sentido de existir. Quando estamos com medo invariavelmente estamos mais em alerta ao que acontece à nossa volta. No estado de alerta, são ativadas respostas fisiológicas que nos preparam para enfrentar um perigo, seja lutar fisicamente ou resistir mentalmente. Mas você sabe quando o medo e insegurança se tornam um problema de saúde mental?
De acordo com psiquatra Pedro Pan Neto, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), essas reações devem ser temporárias. Se elas persistem, tornam-se fobias e acabam por desencadear transtornos mentais.
“Uma pessoa exposta ao perigo de violência constante e a eventos traumáticos aumenta a chance de desenvolver um problema de saúde mental. O estresse é muito subjetivo e tem relação com a vulnerabilidade de cada pessoa”, explica o psiquiatra.
Para recuperar o equilíbrio em momentos medo e insegurança, Pedro Pan Neto aconselha focar em técnicas de respiração e relaxamento. O Brasil tem a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo. E o quinto em casos de depressão, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde.
Para o psicólogo social Fabio Iglesias, pesquisador da UnB (Universidade de Brasília), o aumento da violência se espalha a partir de grandes centros urbanos. O Rio de Janeiro é um exemplo. E aumenta estes quadros de medo e insegurança.
“As pessoas permanecem em um estado de alerta constante. E um dos efeitos disso é que a gente acaba sendo muito agressivo com as outras pessoas. Você se prepara para reagir sempre de uma maneira negativa em relação ao outro”, argumenta.
Para Iglesias, o medo do crime, muito mais que o crime em si, é que é responsável por gerar um problema social. “Basta examinar: quantas vezes você foi assaltado ou sofreu qualquer tipo de ação criminal? Certamente foram algumas vezes, muito mais do que você gostaria, mas poucas vezes. Agora, quantas vezes você sentiu medo e ansiedade de ser assaltado? De que modo isso permeia a sua rotina? De que forma isso influencia como você se coloca no mundo, desde a escolha da sua roupa até o lugar que você vai frequentar?”, questiona.
Por exemplo, quem vive em constante estado de tensão sofre mais do coração. E tem maior predisposição a doenças respiratórias e de estresse. Outro comportamento observado é a escalada de agressividade urbana.
“É o caso das brigas de trânsito, por exemplo. Em sociedades pacíficas você não tem tantos motivos para que o outro seja tão agressivo com você.”
Mas como conviver com a escalada de violência? Para o psicólogo, o suporte social é o melhor antídoto para a sensação de medo. “Nós precisamos criar vínculos para nos sentirmos seguros”, comenta.
Em Morte e Vida das Grandes Cidades, Jane Jacobs traz o conceito de “os olhos das ruas”. Ações simples como o corte de árvores, a manutenção de jardins e a disposição de bancos para as pessoas sentarem tornam as ruas mais vivas, mais seguras.
“O crime geralmente ocorre em um lugar movimentado, porque gera anonimato. Ou num lugar muito ermo, porque não é visível. No lugar que é vigiado, controlado, seja pelo porteiro ou pelas pessoas ocupando as ruas, geralmente não ocorre o crime. Porque a pessoa que vai cometer o crime se sente exposta e constrangida”, argumenta Fabio Iglesias.
A prevenção por meio da análise do ambiente físico não é nenhuma novidade, explica o psicólogo social.
No início dos anos 90, Rudolph Giuliani, o então prefeito de Nova York, adotou a política da tolerância zero ao crime. A política não se tratava de ser intolerante apenas com os bandidos. Mas sim de reprimir qualquer tipo de infração na cidade, até mesmo jogar lixo no chão.
“A ideia por trás da ação era de que se a população tivesse a percepção de que está tudo em ordem. O bandido pensaria duas vezes antes de cometer um crime. Se você tem uma percepção de manutenção do espaço e da vigilância natural, você fortalece o controle da criminalidade”, acredita Iglesias.
Medo e insegurança são criados, fomentados. Mas podem ser controlados e diminuir.
Nos Terreiros, nossos médiuns ouvem de tudo. Mas o medo impera. Medo de ser traído. Medo de perder emprego. Medo de não ter dinheiro. Medo de estar sendo obsediado. Medo de terem ‘feito trabalho contra mim’.
Os passes energéticos, os banhos, as orações e a meditação em casa ajudam, mas o tal “suporte social” citado precisa melhorar no Brasil. E nisso precisamos ficar atentos.