Linha das Crianças na Umbanda: emoção a serviço da fé
Linha das Crianças costuma causar um grande impacto para quem chega num Terreiro de Umbanda pela primeira vez.
E a primeira impressão para quem participa de uma Gira de Crianças ou Erês (ou ainda Ibejis) num Terreiro de Umbanda é a alegria. Alguns podem até se perguntar se não estou confundindo Gira de atendimento com Festa das Crianças ou Erês.
Afinal, esta Linha costuma aparecer em boa parte dos Terreiros apenas no mês de setembro, quando se comemora o dia de Cosme e Damião (e atenção Mães e Pais de Santo, vamos deixar esta Linha trabalhar mais!)
Então puxei pela memória para checar se não estou exagerando. Talvez sim. Mas para as Crianças tudo é maior, exagerado, passional, não é mesmo?
Agora complicou. Estou falando de crianças encarnadas ou de uma Linha de Umbanda? Da Linha de Umbanda, é claro! Mas é impossível não relacionar com as características básicas que as crianças manifestam, não importa onde tenham nascido.
Criança é sinônimo de alegria, dizem. Mas é importante ir além do estereótipo e lembrar que elas são seres humanos que falam, sentem, ficam tristes e têm expectativas, tal qual os adultos. Então porque será que a espiritualidade permitiu que na Umbanda se manifestasse uma linha infantil? O que elas teriam a nos ensinar?
Vamos voltar ao básico.
Como espécie, somos seres complexos: necessitamos de cuidados, desenvolvimento físico, cognitivo e intelectual. Por alguns anos somos crianças, aprendizes por natureza, por necessidade biológica mesmo. Precisamos crescer, aprender, desenvolver o corpo e a mente para encarar o mundo. E neste processo a característica mais importante é o aprendizado. A criança começa a aprender no segundo em que nasce, pois o choro decorre da “mudança de casa” e da necessidade de respirar pela primeira vez. É o mundo ensinando que é preciso se adaptar a ele desde o início.
A partir daí não há um momento sequer que não seja uma descoberta. A relação com os pais, com a alimentação, com a casa, com os animais, só pra ficar com as primeiras relações. E à medida que a criança cresce e se desenvolve vai deixando um pouquinho por vez de ser criança. E vai perdendo uma visão simples e ao mesmo tempo mágica de tudo que a cerca. É a razão em lugar de emoção. A conformidade em lugar das possibilidades. Maturidade em lugar da ingenuidade.
Na Umbanda, a Linha das Crianças é tida como Natural ou Encantada. São seres que não tiverem vivência anterior como encarnados (embora crianças desencarnadas muito novas também se manifestem com frequência). Assim, imputar sua alegria, modo de falar, gosto por brinquedos ou doces a uma encarnação anterior é uma simplificação.
Uma visão mais coerente dá conta de que são espíritos puros, sem vínculos com o mundo terreno, daí sua manifestação infantilizada, digamos, por proximidade energética e espiritual. São alegres sim, emotivos, muitos falam alto, gostam de brincar e exercer uma liberdade sem freios, algo que encanta. Podemos pedir-lhes ajuda para os nossos filhos, auxílio para resolver problemas cotidianos e outras aflições. São ótimos conselheiros e curadores (daí sua associação a São Cosme e São Damião, curadores que trabalhavam com a magia dos elementos).
Imagine uma criança com menos de sete anos possuir a experiência e a vivência de uma pessoa mais velha e ainda ter a inocência, doçura e encanto por tudo e por todos.
Assim é a Linha das Crianças na Umbanda, sempre pronta a prestar grandes aconselhamentos de forma simples e rápida. E ainda há muito a descobrir!
Texto publicado originalmente na Revista KOBÁ. Acesse gratuitamente a revista e baixe clicando AQUI