Enfrentar o coronavírus: espiritualidade é essencial
Enfrentar o coronavírus tem sido uma batalha desafiadora para todos.
Neste artigo escrito por Lúcia Helena, no UOL, a autora faz uma análise interessante sobre como enfrentar o coronavírus com ênfase na espiritualidade. A jornalista é especializada na área da saúde e possui um blog sobre o tema.
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Não dá para pingar umas gotas de gratidão na língua, nem injetar o perdão na veia. Contra o rancor não há vacina, nem há soro que sirva de antídoto ao ressentimento. E, no entanto, apesar de não estar na farmácia, essa seria uma prescrição médica muito efetiva para sairmos mais fortes e com saúde do período desafiador que estamos vivendo. Acredite piamente: o resultado desse “tratamento” é testado e aprovado pela melhor ciência.
“Realmente, não há comprimido de solidariedade e seguir essa receita nem sempre é fácil. Mas também não há dúvida de que o desequilíbrio emocional provocado por sentimentos como a raiva está altamente associado à pressão alta, gera arritmias no coração, aumenta a formação de coágulos perigosos no sangue… Enquanto aqueles sentimentos que nos ajudam a enfrentar a vida de maneira, digamos, mais positiva agem no sentido oposto. E esses sentimentos benéficos são mais presentes em quem cultiva a sua espiritualidade”, nota o cardiologista Álvaro Avezum, médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista, e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, a Socesp.
Preciso dizer: na lista dos nomes mais citados em periódicos científicos de peso constam os de pouco mais de 20 brasileiros, sendo um único deles na área da saúde. Ele é Álvaro Avezum. Sem dúvida, atualmente o maior pesquisador da Cardiologia no país. Faço questão dos parênteses para que ninguém confunda o conhecimento científico sobre o impacto da espiritualidade no organismo com charlatanices, como pregar que devemos jogar a pandemia para o alto até Deus segurar sozinho o perrengue do enfrentar o coronavírus, sem um nadinha do nosso esforço. Há muita gente tirando proveito desse discurso com tremenda má fé.
E aqui, aliás, nem é bem de Deus que estamos falando — quer dizer, pode ter a ver com Deus para uns, pode ser uma história diferente para outros. Isso porque o conceito de espiritualidade é muito mais amplo do que o de religiosidade. “Religião é um sistema de dogmas, crenças e rituais que pode fazer um enorme bem aos seus praticantes. Mas eu devo incluir no conceito de espiritualidade até mesmo pessoas agnósticas e ateus que buscam um significado maior e um propósito para a sua existência. Afinal, esse tipo de busca pode levar a uma religião, mas não necessariamente.”
Hoje, estima-se, existem cerca de 1.000 cardiologistas investigando as repercussões da espiritualidade na saúde do peito, compreendendo-a exatamente desse jeito: como um enorme guarda-chuva que abriga fés diferentes e até mesmo os decrescentes em Deus, no Universo, em… — enfim, há muitos nomes para uma força maior ou suprema —, mas que também se preocupam verdadeiramente em fazer uma boa diferença para todos.
E essa atitude diante da vida reverbera em todo o organismo. Nem sei se, por ironia ou justiça da fisiologia, isso não seria uma espécie de lei do retorno. “No que diz respeito ao coração, as evidências são muito claras, inegáveis”, afirma Avezum. Não sei se sabe, há um capítulo inteiro dedicado à espiritualidade e aos fatores psicossociais na Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular.
Aliás, capítulo que foi coordenado pelo próprio Avezum, consolidando os achados de mais de uma centena de estudos nacionais e internacionais sobre o tema. E, na opinião do cientista, esse é um conhecimento importante em tempos de COVID-19 e isolamento social. Vamos lá…