Velho Meji e sua história: consciência não tem cor

A história do Velho Meji ensina quase sem essa intenção…

“Quando a alma queima de amor e
o ser eleva-se além das estrelas;
Quando o espírito liberta-se da ilusão
e os olhos contemplam a Unidade;
Quando o eu desaparece no
turbilhão do divino;
Finalmente o toque da Luz…”

Era tarde, e o céu já estava tingindo com a cor que antecede o anoitecer.
Posto que o Sol, tímido, escondia-se na linha do horizonte. A tudo eu contemplava, pensando no milagre da natureza.

Logo chegaria a noite e a luz das estrelas beijaria a face da Terra. Um romance que acontece desde o prelúdio dos tempos e que inspira os amantes com sua beleza. Decerto aqueles olhos terrenos estavam muito cansados, mas no meio das tristezas aprendeu a ver a verdade do milagre…

De repente, uma pontada no peito.

Certamente coração de nêgo já não era forte para a matéria, estava cansado de trabalhar. Mas para o espírito era ele a grande riqueza.

Afinal, lá estavam as cicatrizes que nos fazem corajosos como o jasmim. Lá estavam os tesouros do amor e da amizade, as belezas da vida. E o coração, tão maltratado pela humanidade. Coração, altar da imortalidade…

A vida passa rápido. Naquele instante, como um raio que corta o firmamento. Toda ela, dançando na frente dos meus olhos.
Senti saudade dos sorrisos. Das lágrimas, do calor.

E assim, entre o choro e a alegria, o espírito desabrochou…

Então o corpo tombou, sedento por voltar à Terra… O espírito voou, como um pássaro celeste… Homens e mulheres choraram a ilusão da morte…
Mas a natureza, essa cantou a melodia da vida…

Assim minha alma tocava o céu em êxtase. A existência descortinava-se para mim, pois agora o grilhão do corpo estava rompido.
E a morte, o mergulho do corpo em direção à Mãe Terra, estava longe.

Pois na consciência tudo vive…

E eu vivia! A chama da vida ardia em meu peito espiritual como nunca.

Assim, nesse contentamento, nessa bem-aventurança incrível, dancei.

Dancei e rodei como tantas vezes fiz. A sagrada dança dos Orixás, gestos que simbolizam as forças da Criação…

Tanto dancei que me esqueci do Velho Meji do velho negro.
Esqueci de tudo, inclusive. Simplesmente esqueci…

E nesse esquecimento alguém disse:

“Aquele que busca a Luz, que morra mesmo depois de morrer…”

Então, foi ali, perdido no vazio, esquecido, que a gota de orvalho finalmente voltou ao oceano. Ah, o Orun! A terra querida dos Orixás…

De tal forma que tanto busquei Iansã nos raios, mas neles encontrei apenas o seu olhar… Oxalá nas nuvens, mas nelas apenas o seu semblante…

Iemanjá em cada gota d’ água, e o que encontrei foi uma pequena pérola de seu colar… Finalmente, na morte depois da morte, a eles eu realmente me devotei. Girando em volta do axé plantado no meu coração. Dançando de frente para o verdadeiro congá.

Apenas aqui eu realmente os encontrei. Foi aqui que eles sempre estiveram.
O coração é o maior ilê, o maior dos congás. Não existe mistério maior que esse. Não pode existir.

Mas, mesmo que você saiba disso, só morrendo para entender…

“Velho Meji, quem é você? Um negro escravo? Um velho sacerdote?” – a voz da Existência lhe perguntou.

Velho Meji? Sacerdote? Negro? Não. Essa não é a verdadeira natureza do EU…

“Mas então QUEM É VOCÊ?”

E nada mais se sabe a respeito do velho Meji.

Por fim, a lenda conta que sua boca não respondeu, mas sua alma inflamou e ele queimou de amor. Morreu novamente.

Foi viver a realidade de Oxalá, seu querido Pai. No seio do grande Babá, finalmente se encontrou…

Essa história ainda pode ser ouvida quando as estrelas surgem no céu.
Dizem que o velho Meji é uma delas, brilhando serena no firmamento. Iluminando e velando os Terreiros.
É hoje uma das muitas joias que ornam o Ori do velho e querido papai Oxalá

Êpa Babá!

Texto
Jornal da Umbanda Sagrada/Reprodução

Mensagem atribuída a Pai Antônio de Aruanda, ditada em 15/02/2007

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