Religião: afinal, o que é religião?
Afinal, o que é religião?
Este texto é continuação de Umbanda é religião e
NÃO uma seita. Entenda.
Os costumes do homem que dão origem a ritos, as explicações que dão sentido à origem de toda a Criação e a busca por sentido na vida calcado na crença espiritual são alguns dos elementos que constituem o que chamamos por religião.
Assim, a palavra religião em seu sentido semântico se refere ao “religare” do homem a Deus.
Entretanto, nem todas as crenças tem como busca o resgate do vínculo a Deus.
Dessa forma, algumas sequer depositam sua fé na existência de uma presença Divina maior e criadora de tudo.
Por isso, nem mesmo sua tradução pode explicar o que de fato se conceitua uma religião.
A saber, Pai Alexandre Cumino argumenta que religião se entende pelos ritos de determinada fé que são praticados em grupo, onde os praticados individualmente se definem por espiritualidade.
Ao passo que a religião se torna concreta no momento que um grupo cria um ritual e estabelece, por exemplo, um templo.
Assim, não importa se tem livro sagrado, se tem mandamento ou dogmas.
Não importa se está religando ou não a Deus.
Igualmente não importa se a cultura é africana, brasileira ou europeia.
Se você tem um grupo de pessoas com a mesma doutrina (forma de ritualizar a fé), ali já tem uma religião e ponto final.
Por isso as religiões podem propor um religar, mas não somente isso.
“Religião é o que dá sentido à vida e é também uma instituição de abertura de sentido”.
Por certo, toda manifestação de fé (praticada em grupo) acerca de algo que elabora seu fundamento próprio (oferece respostas e significados ao que é praticado) e idealiza um ritual para expressar tudo aquilo em que acreditam, pode ser considerado uma religião.
Mesmo que não despoje de um pontífice ou de dogmas para descrever as regras comportamentais de seus adeptos.
Contudo, o modo de viver de determinados grupos é uma das principais características para sinalizar o que se entende como religião.
Com efeito, aqui adentramos outra questão:
Se não temos um livro sagrado ou um conjunto de regras para definir o que faz parte ou não da crença daquela determinada religião (como no caso da Umbanda), o que a diferencia de uma Seita?
Pois temos que levar em consideração que as seitas são caracterizadas pelas correntes religiosas, filosóficas ou políticas que não aderem total ou parcialmente a doutrina majoritária e se isolam em grupos pretendendo criar uma nova perspectiva para o pensamento dominante.
Então, para responder isso, explicaremos o conceito de Seita ao qual Pai Alexandre Cumino destrincha durante a Jornada.
Assim, é importante que entendamos que apesar de muitas bibliografias terem sido consultadas, a sua ordem de escrita se baseia nos conteúdos apresentados por Pai Alexandre Cumino durante o segundo episódio da Jornada.
Se todo grupo de pessoas que ritualizam sua fé são religiões, o que são as seitas?
Pois a conotação dada à palavra seita atualmente não é a mesma de tempos atrás.
(Aqui no Brasil mais precisamente há 128 anos, quando então a liberdade de culto foi decretada).
Naquele contexto de época, a Igreja Católica era a religião oficial do país.
Sendo assim, qualquer manifestação de fé que não fosse a proferida pelo Catolicismo era considerada seita.
Assim, grupos de pessoas que saiam do Catolicismo eram chamados de Sectários ou Sectarismo – grupo separado.
Eles se separavam da “religião oficial” e criavam um culto paralelo.
Isso era chamado de Seita.– Alexandre Cumino, Teologia de Umbanda – Jornada
No início do texto nós destacamos as influências que uma religião tem sobre a outra e como elas se formam através de resignificações de algo pré existente e nesse processo aderem a sincretismos.
Assim, essas afirmações são exemplificadas na Jornada quando Pai Alexandre Cumino diz que todas as grandes religiões surgiram como seitas e que a figura de Jesus Cristo, tais como Suas ações, são o maior e mais conhecido exemplo disso.
Decerto, Jesus reúne durante a sua vida grupos de pessoas que partilham do seus pensamentos, questionando e se rebelando contra a crença dominante que ditava a forma como os judeus deveriam viver.
Jesus era judeu.
Aliás, um judeu que viveu às margens, nascido em família pobre.
Seu pai era carpinteiro e acredita-se que ele tenha vivido em uma caverna em Nazaré, fazendo parte de um pequeno povoado que habitava o centro-sul de Israel e vivia por entre as montanhas.
Jesus era um homem do povo porque o centro do Judaísmo está em Jerusalém capital; e Jesus vinha da periferia.
Jesus falava a língua do povo.
Igualmente Jesus conhecia toda aquela cultura Judaica e não era um Sacerdote. Mas dentro do Judaísmo é um Mestre e pode ser considerado um Rabi ou um profeta popular.
Ele envolve a multidão com seu carisma.
No entanto, Jesus rasga as páginas da Torá, que é o Livro Sagrado dos Judeus.
Jesus rasga as páginas do Velho Testamento. (Rasga metaforicamente falando no momento em que ele diz ‘atire a primeira pedra quem não tem pecado’).
Nesse momento Ele rasgou a Lei.
Porque aquilo não era apenas uma questão religiosa: era a Lei, a Constituição daquele povo.
Assim, a mensagem deixada por Jesus segundo a tradição Cristã se manifesta por meio de suas ações. Ou seja: Jesus não deixou nada escrito.
Jesus foi um judeu que confrontou as regras do Judaísmo vigente em seu tempo e conclamou que mesmo as pessoas não judias e consideradas pecadoras por não seguirem o conjunto de regras dessa crença poderiam adentrar o Reino de Deus, ao qual Ele chamava de Pai.
Dessa forma, Jesus, integrante da camada popular, passava a partilhar a mesa ceando com doentes, ladrões, prostitutas e excluídos sociais.
Por isso, no momento em que discorda de tudo e propõe uma nova ordem para crer em Deus cria, assim, uma seita. Que, na sua história iria ser perseguida e só se fortaleceria e em 313 d.C.
Pois seria permitida diante as autoridades.
Esse é o Cristianismo, maior confissão de fé do mundo e, antes, uma seita.
Hoje, com a validade do estado laico, ao menos em nosso país, esse conceito de seita já não se aplica.
E o significado dado a ela traz a ideia de algo negativo, que são os grupos que tem como práticas ações que possam ferir física e psicologicamente outras pessoas.
A Ku Klux Klan, por exemplo foi um desses grupos, ao qual partia de uma ideia inicial de cunho religioso.
Entretanto, pregava a violência, racismo e o terrorismo contra aqueles que não se encaixavam no que eles julgavam a referência.
Seita hoje, seria um grupo de pessoas fazendo o que não é ético, não é moral e está contra as leis vigentes.
– Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada
Religião, acima de tudo o que foi dito, precisa ser em primeiro lugar um meio promotor da união, do auxílio, do crescimento, da organização e da guarda dos valores de cada cultura.
Tudo o que fere, machuca, manipula, humilha, promove o ódio, é extremista ou fundamentalista precisa ser combatido.
Igualmente, não é religião.
Axé a todas as religiões do nosso país!
Saravá a todas as formas que temos de manifestar nossa fé!