Quarta-feira de Cinzas e a Umbanda

Quarta-feira de Cinzas e a Umbanda possuem alguma relação?

A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma dentro do dogma cristão.

Portanto, nela prega-se o período (40 dias) em que Jesus Cristo vagou pelo deserto, passando por provações.

“Chegando o tentador, disse-lhe:

‘Se és filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Mas, Jesus respondeu: está escrito: não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.’”
– Mateus 4:3,4

Assim, os fiéis católicos dedicam seus ritos religiosos com mais rigor nesse momento do ano litúrgico.

Igualmente realizam celebrações como o Domingo de Ramos, a Ceia do Senhor, a missa de lava-pés dentre outras designações.

Estas, simbolizam a passagem de provações do messias e tem como objetivo a preparação para a festa pascal – ressurreição do Cristo.

De fato, a Quaresma também serve como um período para os fiéis refletirem a vida.

Assim, intensificam penitências e orações, ao que a doutrina considera ser o reconhecimento de seus pecados.

Assim, nestes dias, as imagens da igreja são cobertas com pano roxo simbolizando o luto à Jesus Crucificado.

Do mesmo modo, as cinzas representam o desapego dessa vida, onde prega-se que todos vem do pó e voltarão a ele.

Sendo que tudo é provisório na terra e somente o Céu é a morada eterna.

Umbanda, Sincretismo e concepções sobre o período da Quaresma

Decerto muitos Terreiros resguardam seus trabalhos nesse período evidenciando a forte influência do sincretismo com a crença católica.

Além disso, há também a ideia de que nessa ocasião os Orixás estão em guerra contra o mal, influência esta da cultura africana.

Seguindo essa linha é comum ver, nesse período, Casas pedindo o uso de contra-eguns, justificando-se pela ausência da proteção de Iansã.

Pois essa estaria em guerra junto dos outros Orixás.

Da mesma maneira, alguns Terreiros também percebem a Semana Santa como o tempo em que deu-se a criação do mundo.

Portanto, nessa concepção os Orixás descem do Orún (mundo dos espíritos) para conhecer o mundo terreno e as criações de Olorum.

Então, diversas Casas realizam nessas datas restrições na alimentação, recolhem os atabaques e por vezes deixam de trabalhar.

A Umbanda que não adere à Quaresma

Ronaldo Linares trata sobre isso.

Ele diz que “a tradição de se fechar os Templos de Umbanda quando não havia liberdade de crença não tem razão de ser no mundo atual.

Aliás, muito ao contrário: é nessa época que NÃO DEVEMOS PARAR.

“É nessa época em que a Quimbanda maligna trabalha à vontade.

É nessa época que o Templo deve estar preparado.

Deve estar pronto para que, com o auxílio das entidades de luz, denunciar qualquer trabalho negativo que tenha sido feito para atrapalhar seus filhos de fé ou frequentadores.”

Igualmente ele continua dizendo que interromper os trabalhos nesse período é descabido.

Para Linares é “ingenuidade” e é também desconhecer que os inimigos trabalham nas trevas.

Tanto a Quarta-feira de Cinzas como o período que a sucede é algo que vem sendo comentado na comunidade umbandista há um bom tempo.

Assim, Rodrigo Queiroz escreveu em seu blog no ano de 2007 sobre o assunto e exemplifica a questão dizendo:

“Não é porque a Umbanda faz uso da mediunidade (influencia espírita) que vamos então tirar a magia que os Caboclos e Pretos Velhos ministram.

Pois parece que é coisa de espírito “atrasado”.

Não é porque temos a presença do índio e sua cultura na manipulação das forças elementais que vamos então ter Giras de dança da chuva (pajelança) no Terreiro.

Tampouco não é porque os africanos são marcantes em nosso culto que devemos seguir os padrões de iniciação em roncó (Culto de Nação).”

Conclusão

Da mesma forma, salienta que a exaltação de outros fundamentos na Umbanda não é algo proibido.

Mas desacelera o processo de desenvoltura da identidade umbandista.

“A Umbanda é uma religião que tem seus próprios fundamentos ditados pelos mentores que nela se manifestam e é a eles que precisamos reportar nossas dúvidas e conflitos.”
– Rodrigo Queiroz



Leia o texto citado na íntegra em: Quaresma na Umbanda e a força do sincretismo


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