Primeira Gira de Umbanda: nervosismo e descobertas
Primeira Gira de Umbanda a gente nunca esquece.
Para as amigas Lúcia e Sonia a máxima continua valendo.
Na primeira parte da história, Lúcia e Sonia se reencontraram depois de muito tempo separadas e, quase sem querer, a Umbanda surgiu com um assunto da animada conversa.
Lúcia, umbandista, convidou a amiga Sonia para conhecer seu Terreiro.
Acompanhe abaixo o desenrolar desta história!
***
Lúcia reencontrou a amiga Sonia depois de muitos anos. Se conheceram no ensino médio, eram boas amigas, mas não chegaram a ser inseparáveis. Mas eram boas amigas.
Lúcia fez vestibular, entrou na faculdade e estava cursando Psicologia.
Sonia ainda não tinha decidido qual carreira seguir, quando ficou grávida pouco antes de se formar no ensino médio.
Assim, decidiu adiar os estudos e cuidar do bebê que viria. Quase dois anos depois, uma nova alegria: grávida de novo.
E assim a faculdade ficava novamente distante.
Lúcia, ao contrário da amiga, prestou vestibular para Letras e Psicologia. Passou em ambas e escolheu a última.
Começou estudando de manhã, mas logo mudou para o noturno, pois precisava trabalhar para ajudar na renda da família, que até ali bancava sua faculdade.
Foi secretária, auxiliar administrativo, até que conseguiu um estágio no departamento de recursos humanos de uma boa empresa.
Para uma futura psicóloga, parecia um bom caminho a seguir, pensava Lúcia.
Sonia, por sua vez, agora era mãe de Lucas, 4 anos, e de Laura, quase 2.
Já Lúcia ainda não tinha pensado sério em ter filhos. Nem namorando estava.
Após o reencontro ocasional na rua, haviam combinado de ir a uma Gira de Umbanda naquela semana, na sexta-feira à noite.
Lúcia era umbandista há alguns anos, embora já tivesse conhecido a religião ainda menina, por intermédio de uma tia, que era médium incorporante.
Sonia era católica até frequente: foi batizada, fez primeira comunhão, crisma, casou na Igreja com seu namorado de escola toda de branco e constituiu família.
Mas o ânimo em frequentar a missa foi sendo minado pelo dia a dia de uma jovem mãe casada com dois filhos pequenos.
O reencontro entre as duas foi tão surpreendente quanto animador. Ambas haviam perdido contato e ficaram muito felizes de voltarem a se ver.
Lúcia ficou ainda mais feliz porque logo se veriam de novo, agora numa Gira de Pretos Velhos.
Tudo combinado, Lúcia encontrou Sonia próximo ao Centro da cidade e de lá foram juntas, de carro, até o Terreiro.
Marcelo, marido de Sonia, cuidaria das crianças. Ele ficou meio desconfiado quando a esposa disse que iria na Umbanda, mas tentou não demonstrar. Não conhecia a
religião direito, mas preferiu não opinar. Pelo menos não naquela hora.
Sonia se sentia livre, mas não porque conheceria uma nova religião.
Depois que Laura nasceu ela quase não saía de casa. Reencontrar uma amiga e ainda fazer um ‘programa’ novo parecia libertador!
– Chegamos para a sua primeira Gira. – disse Lúcia com naturalidade.
– É aqui? – perguntou Sonia diante do que parecia ser um imóvel residencial.
O Terreiro que Lúcia frequentava há quase 3 anos era simples, sem nenhuma placa na frente. Realmente, parecia apenas uma casa.
– Sim, é aqui. Vamos entrar!
Lúcia deu uma leve batida à porta e logo um rapaz negro, jovem e muito alto, todo vestido de branco, recepcionou-a com um largo sorriso.
– Boa noite irmã!
– Boa noite!
Sonia subitamente sentiu seu coração acelerar. Cumprimentou o simpático rapaz e seguiu atrás da amiga.
O nervosismo de Sonia continuava, embora a visão do Terreiro fosse convidativa. Cadeiras enfileiradas tal qual os bancos da Igreja Católica estavam voltados para uma grande cortina verde ainda fechada. Muitas pessoas já aguardavam sentadas, algumas lendo, outras conversando animadas. Muitos ainda chegavam e se cumprimentavam com alegria. O clima todo parecia muito bom.
Lúcia pegou uma senha para si e outra para a amiga. Escolheram um local para sentar e logo estavam conversando baixinho, antes dos trabalhos começarem.
– Aqui vocês se chamam de irmãos também? – perguntou Sonia.
– Sim, é um hábito. Afinal somos todos irmãos mesmo, não é?
– Verdade…
– Chegamos cedo. Daqui a pouco começa. – avisou Lúcia.
– O que tem atrás da cortina verde amiga?
– É o congá. É como se fosse um altar, mas é um pouco mais do que isso. É onde os médiuns ficam, incorporam e dão assistência a nós. – explicou Lúcia.
– E por que está fechada?
– É que eles estão se preparando. Tá vendo aquele rapaz ali, que entrou rapidinho e falou um boa noite geral? Ele é um dos médiuns daqui. Ele vai direto para o
vestiário lá atrás e já vai se posicionar lá dentro. Mas a cortina também é simbólica, você vai ver. Tem a ver com a abertura dos trabalhos…
– Ah tá. Desculpa as perguntas, é que é tudo novo pra mim. – disse Sonia, ainda tentando absorver tudo.
– Não se preocupe, aqui você está segura. Vou te explicando tudo.
– Obrigado Lúcia. É que eu nem sei…
Sonia foi interrompida por um canto alto e forte e o som de tambores sendo tocados com força e vitalidade.
– O que é isso? – perguntou.
– São os atabaques. A sua primeira Gira já vai começar!
O coração de Sonia, que já batia forte, aumentou ainda mais, quase que no ritmo daqueles tambores cujo som preenchia todo o espaço.
***
Continue acompanhando a primeira Gira de Sonia e o desenrolar desta história nos próximos capítulos.
Foto: Lívia Mariáh Fotografia