Explicar Umbanda para quem não conhece a religião

Explicar Umbanda para quem não a conhece pode ser uma tarefa árdua.

Estamos no Brasil, onde a tradição católica impera.

O modelo de Igreja e seus rituais que logo surgem na memória da maioria é o mais tradicional possível: bancos ou cadeiras voltadas para o altar principal, paredes e
teto alto, afrescos, vitrais, santos nas laterais e a imagem de Jesus ao fundo numa cruz.

É isso (com variações disso).

Esse modelo é quase onipresente, mesmo na lembrança de quem se declara ateu. 2000 anos de catolicismo ajudam…

Quanto a rituais, a missa, com início, meio e fim, entrecortado pela homília, também é reconhecível pela maioria.

Aí então você resolve explicar Umbanda para alguém.

O que é, o início, como funciona.

Você que agora nos lê sabe da dificuldade de explicar Umbanda, não é mesmo?

E nem vamos falar de preconceito e intolerância, porque isso já é tema para outro momento.

Pensando nisso, criamos abaixo um diálogo (fictício) entre duas amigas que se encontram depois de muito tempo e uma delas tem uma novidade.

Acompanhem!

***

– Oi Sonia, tudo bem?

– Lúcia, há quanto tempo! Como vai? O que tem feito?

– Trabalhando, estudando, tudo ótimo. E você?

– Estou em casa, cuidando das crianças. Ainda não dá pra deixá-los e voltar a trabalhar fora…

– Entendo…

– Mas sabe, às vezes dá um desânimo, a impressão de que falta alguma coisa. Eu amo meus filhos, meu marido, mas sinto falta de trabalhar – lamenta Sonia.

– Eu não tenho filhos, mas imagino que a atenção é toda deles, não é? – indaga Lúcia.

– Nem te falo menina… nem ir à missa eu consigo mais…

– Você continua frequentando a Igreja? – pergunta Lúcia.

– Ah, faz tempo que não vou, anos! – responde Sonia quase com naturalidade.

– Eu estou na Umbanda. – diz Lúcia com cuidado.

– Umbanda… já ouvi falar. É uma religião? – pergunta Sonia sem muita curiosidade.

– Sim, é uma religião brasileira, nasceu aqui.

– Que legal…

– É a mesma coisa que a Igreja Católica, só que diferente. – diz Lúcia, já rindo da frase dita.

– É igual só que não! – brinca a amiga.

– Exatamente! – responde entre risos.

– Mas é sério Sonia. A Umbanda é uma religião brasileira super linda, animada. Eu me encontrei lá.

– Mas como funciona? – pergunta a amiga um pouco mais interessada.

– Ao invés de Igreja, chamamos o espaço de Terreiro, Templo, Tenda ou Casa. Na que eu frequento, tem Giras todas as sextas à noite.

– Giras? Tem dança lá? Opa, já quero ir! – brinca a amiga.

– Tem sim, você vai ver, aguarde… – rebate Lúcia.

– Mas como funciona, eu posso ir lá? – pergunta Sonia.

– Sim, eu te levo quando você quiser. Chegando, você pega uma senha e aguarda junto à assistência, que é o nome que eles dão ao público em geral, que somos nós, que
vamos até lá para conversar com os médiuns incorporados.

– Opa, peraí. Você conversa com os espíritos. Sei lá hein, tenho um certo medo dessas coisas… – diz a amiga um pouco receosa.

– Ih, fica tranquila! Você vai amar!

– Mas aí eu falo o quê pra pessoa que me atender?

– Você fala o que vier no seu coração, o que te aflige, alguma dúvida que você tem na sua vida…

– Aí ele vai me dizer o que fazer, igual cartomante? – arrisca Sonia.

– Não, isso eles não fazem não. Eles vão dar aconselhamentos. São muito sábios, você vai ver.

– Igual psicólogo?

– Só que não! – dizem as duas quase juntas, entre risos.

– Tá bom Lúcia, gostei, fiquei interessada. Tô com um pouco de medo, mas acho que quero conhecer sim. Tem que pagar alguma coisa?

– Não, imagina! Na Umbanda o atendimento aos consulentes é gratuito.

– Mas tem uma sacolinha né? – pergunta Sonia, se referindo ao momento das ofertas ou ofertórios, comuns nas religiões cristãs.

– Olha amiga, pelo que eu sei, cada Terreiro tem uma norma própria. Lá no meu você pode doar velas, materiais de limpeza, prendas para rifas e bingos e até dinheiro se
puder e quiser. Mas não é obrigatório não.

– Legal, vamos combinar então. Eu topo.

– Ótimo, você vai adorar. Nesta sexta tem Gira de Preto Velho. – avisa Lúcia.

– E como é isso?

– Pretos Velhos são, na maioria, espíritos de escravos que viveram no Brasil, sofreram, aprenderam e evoluiram noutros planos e agora incorporam nos médiuns para dar
atendimento pra nós. – explica Lúcia.

– Ai amiga, não sei, tá me dando um friozinho na barriga… Você jura que não tem problema eu ir, ninguém vai ficar reparando não?

– Imagina boba! O clima no Terreiro é super legal, tem o ritual de abertura, os atabaques, os pontos cantados, você vai amar!

– Vixe, você falou um monte de coisa aí que eu nem faço ideia. Mas tá combinado, eu topo. Nos falamos depois pra combinar então.

– Jóia. Eu te mando mensagem e a gente combina. – diz Lúcia, já cumprimentando a amiga que se apressava para ir embora.

– Tchau, foi ótimo te ver! – diz Sonia já de saída.

– Nos vemos na sexta. A gente combina.

– Até lá!

***

Explicar Umbanda não é lá muito simples, como vimos.

Ao menos, Lúcia conseguiu convencer Sonia a conhecer seu Terreiro.

Mas fiquem tranquilos. A história continua!

Clique AQUI e leia a segunda parte desta história!

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