Pai Tabaco: Entidade não fuma, manipula
Pai Tabaco e Erva de poder
Leitores, esse texto foi escrito para responder aquele tio, amigo, parente que vai na sua casa olha o charuto na tronqueira e diz que Umbanda é coisa de espírito negativo, apegado à matéria e a vícios humanos.
Assim, quando te repetirem essa mesma conversa, agora você pode falar “olha eu não vou te explicar, porque tem um texto que faz isso por mim”…
Então, para fazer isso, vamos falar sobre o uso sagrado do tabaco, seja ele no charuto, no cachimbo ou no cigarro de palha.
A saber, todos são utilizados pelas entidades no ambiente de Terreiro.
Portanto, é importante tomar conhecimento de onde surgiu o uso de determinadas ervas para esta finalidade.
Acho que todo mundo já ouviu falar sobre o cachimbo da paz do velho índio, não é mesmo?
Essa expressão faz todo o sentido e vamos explicar o porquê.
O tabaco, junto de outras ervas como a Jurema, o Peyote, a Cannabis e a Folha de Coca são plantas enteógenas.
Ou seja: ervas que contém substâncias capazes de alterar a consciência e induzir a pessoa ao transe espiritual.
A palavra enteógeno se refere ao uso sagrado e ritualístico dessas espécies.
Sua utilização de forma indiscriminada e fora do contexto do que é sagrado e divino dão a elas a classificação de drogas alucinógenas.
Assim, as enteógenas são consideradas ervas de poder.
Nesse momento retomamos a história do velho índio.
O conceito de erva de poder é inaugurado junto da descoberta dessas ervas pelos povos nativos americanos.
Eles foram responsáveis pelas primeiras incursões no uso do tabaco e outras ervas, utilizando-as para fins curativos e/ou em cerimônias sagradas.
Normalmente só o Xamã (líder espiritual) da tribo poderia manipula-la e ingeri-la.
Salvo alguns casos de cura espiritual ou física, onde era dada a concessão ao integrante da tribo de se relacionar com essas plantas fazendo o seu uso.
Mas tudo isso sempre em um contexto de reverência e respeito.
Os índios acreditavam que essas ervas eram espíritos da natureza que propiciavam a eles viagens a mundos espirituais.
Nelas, nossa alma poderia habitar vivendo uma outra situação.
Ao acessar essa realidade paralela, por meio do uso da planta de poder, era possível resolver lá os problemas que causavam dores e males no plano físico.
Era por meio dessa medicina tradicional, do corpo e da alma, que os Pajés (líderes espirituais) trabalhavam.
Assim, eles zelavam pela saúde da comunidade, da agricultura e dos animais.
Por isso a relação nutrida por esses povos às plantas de poder era de respeito, zelo, devoção e responsabilidade.
Esses mesmos povos acreditavam que o uso profano e não autorizado dessas ervas trariam dor e sofrimento.
Pai Tabaco
Dentre o que foi esclarecido, em muitas tradições presta-se reverência ao que chama-se de Pai Tabaco.
Então, na Umbanda vamos entender como uma força espiritual vegetal.
Diferente de um ramo de alecrim que agrega energia e pode auxiliar em algumas situações.
Por sua vez, Pai Tabaco se comporta como uma consciência, uma inteligência vegetal muito poderosa.
Rodrigo Queiroz dedica um bloco de estudos em para falar sobre o fundamento de Pai Tabaco ao umbandista.
É uma consciência severa, porque o tabaco é uma erva de poder, onde se tem múltiplos desdobramentos, como a alteração de consciência e do estado espiritual, emocional e psíquico do indivíduo.
– Rodrigo Queiroz em
Ele continua explicando que essa consciência adentra seu corpo, dominando-o de dentro para fora.
Sua própria composição tem como princípio ativo a nicotina, substância responsável pelo vício e outros males físico, como o câncer.
Por isso, o uso do tabaco em que se propõe uma relação de prazer, de confraternização ou de fuga da realidade além de viciar seu corpo físico em razão de suas propriedades químicas, irá ativar em sua consciência um “link” que irá remeter ao tabaco a sua capacidade de se relacionar.
Quando você usa o que é sagrado de forma sagrada, sagrado ele permanece.
Quando você tira do espaço sagrado e leva para o profano, saiba o que você esta fazendo.
Pois o sagrado, na figura profana, te escraviza e o escravo do tabaco é o viciado.
Ele acha que tem domínio sobre si e sobre o elemento.
Mas ele é escravo daquela força e elemento, assim como qualquer coisa que causa dependência química, espiritual e emocional.
– Rodrigo Queiroz
Mas e se eu viciar no tabaco usando-o na prática da Umbanda?
É nesse momento que nós fundamentaremos o título do texto.
O uso do tabaco empregado na ritualística da Umbanda não deve causar dependência porque a entidade não fuma o charuto, cachimbo, cigarrilha ou o cigarrinho de palha.
Assim, de forma prática, o Guia irá utilizar esse elemento com baforadas e não tragando a fumaça.
Essa fumaça, quando projetada no consulente tem um alto teor curativo.
Utilizando-se da potência desse elemento e acessando o mistério dessa consciência articulada, Exus, Preto Velhos, Pombagiras dentre outras entidades, têm um forte aliado na descarga de formas-pensamento.
Igualmente na eliminação de miasmas, na quebra de cascões espirituais, todos esses males espirituais causados por energias negativas condensadas em nosso espírito e projetadas a todo momento em nossa vida, atravancando-a.
Sabe quando você vai no Terreiro sentindo-se pesado e logo depois de tomar o passe sente um alívio?
É normal que você nem saiba explicar o porquê dessa sensação.
Mas além de toda a energia existente naquele ambiente há também a magia manipulada pelos Guias.
No momento da defumação utilizando-se a força de Pai Tabaco a entidade consegue manipular e acessar os 4 elementos da natureza.
Sendo a terra e água condensados no elemento vegetal e o ar e o fogo presentes na queima do tabaco e na fumaça que provém dele.
“Alguns Guias chegam a cuspir em recipientes adequados,
a famosa “caixinha” que fica ao seu lado.
Para neste ato evitar ao máximo a ingestão da nicotina e de outros elementos que não interessam para o trabalho e muito do que vem pela química industrial.”
– Rodrigo Queiroz
Com isso posto, é preciso que se atente ao uso de charuto (fumo) de boa qualidade.
Quanto menor a qualidade do charuto, mais substâncias químicas ele carrega e menos folha de tabaco ele possui.
O cigarro comum, por exemplo, não serve como elemento ritualístico ou de magia. Sua composição inclui mais de 4.250 outros agentes tóxicos e a quantidade de tabaco é ínfima.
“Use um charuto de qualidade, não faça a sua magia, a sua reza com o pior.
Porque a qualidade que você oferece é a qualidade daquilo que você espera.
Quando for manipular ele, peça licença a Pai Tabaco,
a essa consciência presente nessa força vegetal.
Peça para que a partir do momento que você baforar que seja purificador, seja magia sagrada acontecendo naquele momento.”
– Rodrigo Queiroz
Pai Tabaco é uma consciência. É um espírito.
Da mesma forma, sua vida pulsa nas matas, em cada nova raiz, muda, folha, onde há vida vegetal, flui por ali também esse mistério.
Em outras culturas, outros mistérios foram revelados como é o caso da Mama Coca na Colômbia e que assim como o Tabaco também teve sua estrutura profanada.
A exploração dessas forças agregam em si uma reatividade, que é o que acontece com tudo o que se negativa.
O negativo do amor é o ódio, o negativo da lei é a desordem e assim por diante.
Assim, quando essa força é acessada com intuito de exploração e um processo de dessacralização daquilo que carrega o poder da cura é trazendo a dor que ele reage.
Não por uma vontade própria de vingança, mas porque assim o é.
Eu sou um espírito severo que entra e sai de teu corpo.
Não fui criado para o teu prazer.
Habito na mata, na terra, na água, no fogo e no ar.
Ando por aqui muito antes de você!
Fontes: