Morte dá sentido à vida

Morte faz parte de algo maior que envolve: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer.

A morte nos aproxima da vida, nos faz chegar bem perto da compreensão do mistério da vida.

No momento da morte, muitas pessoas conseguem ver sua vida inteira passar em sua mente em alguns segundos. Pessoas que passaram pela experiência da morte e voltaram à vida mudaram completamente.
Aprenderam a dar valor a cada um dos momentos e a dar valor a coisas pequenas e simples que antes não tinham valor.

Assim vemos relatos de pessoas que estiveram em coma, que tiveram parada cardíaca e outras que, por alguma razão, se sentiram morrendo.
Muitas destas pessoas passam a ter a convicção da vida além da vida encarnada. Existe vida além da morte, confirmam encarnados e desencarnados que nos passam sua experiência.

A experiência da morte é profunda e transformadora; depois de vivê-la, a grande maioria das pessoas passa a viver de fato. Boa parte consegue sair do estado de sonolência e automatismo em que está.

Por esta razão é que, em muitas ordens e sociedades secretas ou discretas, ocultistas, espiritualistas ou esotéricas, existem as iniciações e, geralmente, a primeira iniciação é um ritual de morte.

Iniciação significa isso: morrer para o profano e nascer para o sagrado. Em muitos rituais, o candidato é conduzido para viver uma experiência de morte, em que deverá sentir a morte e refletir sobre a vida.

Esta reflexão o difere dos demais que nunca pensaram na sua própria morte. Todos os dias nascemos e morremos um pouquinho. Passamos por uma mini-morte no ato de dormir.

Deveríamos assim perceber o milagre da vida!

Cada novo dia é um milagre, acordar é um milagre. A simples reflexão sobre o sono deveria trazer uma reflexão sobre a morte e a ilusão de estar acordado de fato. Quando dormimos, sonhamos situações que naquele estado, de sono, parecem ser reais. Quando acordamos, nos damos conta que estávamos dormindo e sonhando.

A pergunta é:

Como temos certeza, agora, de que estamos realmente acordados e não apenas sonhando, levando em consideração que nossos sonhos são tão reais e profundos?

A vida inteira é um sonho também, é como a Matrix (do filme). Se existe vida antes da vida e vida depois, a vida é eterna e encarnar (nascer, crescer, envelhecer e morrer) é algo que passa muito rápido. O que são 100 anos diante da eternidade? Não é nada.

Viver neste mundo é apenas viver uma experiência com um único objetivo: aprender algo com isso. No entanto, passamos pela vida sem grandes transformações. Mudamos poucas coisas em nós mesmos, passamos a vida como se estivéssemos dormindo. Algumas poucas vezes, quando estamos sonhando, nos damos conta de que estamos dormindo.

Quem nunca se deu conta, no meio de um sonho, de que não passava de um sonho e que logo acordaria, sendo assim, não deveria se preocupar com nada?

Isto é estar desperto e consciente durante o sonho. O mesmo se dá em relação à vida. Algumas poucas pessoas conseguem despertar e estar conscientes do que é a vida de fato.

Estas pessoas são consideradas Mestres, Iluminados, Avatares e etc., como Cristo, Buda, Krishna, Ramakrishna, Mahavira. Muitos podem acreditar intelectualmente que existe vida após a morte. No entanto, quando a morte se aproxima, vem o medo e o desespero.

A vida após a morte não é ainda um fato consumado e, sim, um conceito doutrinário.

Todos os iluminados nos falam de sua experiência com a morte e tentam nos despertar para a vida, nos tirar da sonolência. Cristo diz: “deixe que os mortos enterrem seus mortos”. Esta é uma forma de dizer que os “vivos” também estão mortos, porque não estão vivendo de fato e não entenderam o sentido da vida.

E Ele diz mais: “Eu sou o caminho e a vida”. Ele representa o caminho do despertar, o único caminho para a vida de fato que é o caminho da consciência, estar consciente, acordado e desperto. “Ninguém vai ao Pai se não nascer de novo.”

Esta é uma frase que dá margem a muitas interpretações como o batismo, ressurreição e reencarnação. Em todas elas está a experiência da morte.
Mais cedo ou mais tarde todos vamos passar por esta experiência.

No entanto, o que pode transformar a vida é passar por esta experiência antes do desencarne. O ritual de batismo já teve este sentido; há formas de batismo em que o adepto era praticamente afogado na água para sentir como se fosse morrer e, então, ele estaria renascendo e aprendendo a dar valor para a vida.

Hoje o batismo tem um outro valor, simbólico, e embora possa ser ritual de iniciação, não dá a experiência de morte. Já presenciei algumas entidades de Umbanda afirmarem que eles são os vivos e que nós somos os mortos.

Nossa relação com eles é justamente a relação do discípulo com o mestre, pois o grande objetivo do contato com a espiritualidade é o despertar, a tomada de consciência mais profunda. A grande maioria de nós apenas aceita a vida após a morte como conceito intelectual e doutrinário.

A maior caridade que pode existir é dar um sentido para a vida, é dar para as pessoas um motivo de estarem encarnados. Muitos vêm à Umbanda pedir coisas, mas o objetivo último da Umbanda não é te dar coisas e, sim, te transformar como pessoa.

E a transformação real não acontece de fora para dentro, mas de dentro para fora. De fora para dentro, mudamos nosso comportamento.

Mudamos nosso jeito de lidar com as coisas e nos educamos, mas muitas vezes somos a mesma pessoa internamente.

Uma mudança interna só acontece quando de fato nos tornamos uma outra pessoa. A grande mudança acontece quando acordamos.

Ela acontece quando deixamos de viver uma vida autômata, quando deixamos de nos comportar de forma condicionada, quando deixamos de apenas reagir sem pensar no sentido da vida.

Conta uma lenda de que Alexandre, o Grande, queria levar um mestre iluminado do Oriente para o Ocidente, da Índia para a Grécia.

Para persuadi-lo o ameaçou com a morte. Teria dito: “Se não vier comigo, eu lhe mato”. E a resposta do mestre iluminado foi:

“Você não pode me matar, chegou tarde demais. Eu já me matei a mim mesmo”.

Ele, assim como todos os grandes místicos, já havia transcendido a morte.

Que seja assim: que cada um de nós faça ao menos uma reflexão sobre o que é a morte e o que é a vida de fato. E que, em nosso caminho, a morte seja apenas uma oportunidade de acordar.

Que seja um despertar para a vida e que isso aconteça antes da morte deste corpo físico.

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