Quase 80% de Mães e Pais de Santo já sofreram intolerância religiosa
Pesquisa inédita e recente coordenada pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro) e pela entidade Ilê Omolu Oxum aponta que 8 em cada 10 Mães e Pais de Santo já sofreram algum tipo de intolerância religiosa. E tem mais: 91,7% deles também já ouviram algum tipo de preconceito a terceiros próximos por conta da religião escolhida. Foram entrevistados 255 líderes de terreiros no Brasil em diversas regiões.
Quando o assunto é sobre denúncia, 68,63% informaram que não conhecem delegacias locais preparadas para receber esse tipo de discriminação, assim como 45,5% disseram não perceber acolhimento por meio dos serviços de Disque-Denúncia. Mais da metade dos casos (57%) acontece em situações do cotidiano, longe dos terreiros e das autoridades policiais.
Intolerância religiosa em São Paulo: número de casos triplica em 5 anos
Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) obtidos pelo portal UOL revelam que enquanto 2016 teve 5.216 registros de ocorrência, 2021 teve 15.296 denúncias. A capital paulista lidera, seguida por cidades populosas como Guarulhos, Campinas e São Bernardo do Campo, entre outras. Exemplos de terreiros invadidos e depredados surgem a todo momento. Dentre os agressores, muitos se autodeclaram evangélicos sem pudor, embora nem todos sejam.
A intolerância religiosa só virou crime no Brasil em 1940, embora o Brasil seja um Estado laico desde a Constituição de 1890. O Código Penal prevê pena de multa ou detenção de um mês a um ano. Se houver violência, a pena é aumentada em um terço.
Cerca de 62% das vítimas de intolerância religiosa no Brasil declararam ao Disque 100 — canal federal de denúncias — professar uma fé de matriz africana, como Umbanda e Candomblé. Evangélicos somaram 9,8% dos casos; católicos, 4,8%.
O dado, de 2018, contradiz declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL), que em setembro de 2021 afirmou na ONU (Organização das Nações Unidas) que cristãos são perseguidos no Brasil.
“Não existe perseguição contra os evangélicos no país. Nenhum cristão terá seu templo destruído, como acontece às casas de tradições indígenas ou terreiros”, afirma Angelica Tostes, pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social
Diante do crescimento de casos e denúncias de intolerância religiosa, pode ser que muitos se sintam vulneráveis e até mesmo de mãos atadas. Afinal, o que podemos fazer para mudar estes números?
É dever de todos nós lutar para que a Umbanda seja reconhecida e respeitada. Os canais Umbanda Eu Curto tem a missão de dar visibilidade e compartilhar conhecimentos sobre a religião há mais de 11 anos. Mas isso apenas não basta. Veja abaixo o que você pode fazer:
Dicas para combater a intolerância religiosa
- Se for dirigente de terreiro, oriente suas filhas e filhos de Santo e a consulência a denunciar atos de intolerância;
- Oriente também a todos que, quando trajados de branco ou usando itens religiosos (turbantes, guias, etc.), procurem andar em grupo, quando possível;
- Se sofrer ou presenciar atos de intolerância, denuncie. Se possível, grave com seu celular o ato e tenha sempre uma testemunha;
- Denuncie pessoalmente o caso em uma delegacia mais próxima ou através do Disque-Denúncia 100;
- Fortaleça a religião declarando-se umbandista sem pudor. Explique a religião para quem não a conhece. Conhecimento esclarece e aproxima;
- Nas eleições, analise as propostas dos candidatos e vote em quem defende a liberdade de culto de fato.