Festa Junina na Umbanda: podemos comemorar?

Festa Junina na Umbanda é um tema interessante e que suscita muitas dúvidas. Afinal, podemos ou não comemorar, enfeitar o terreiro com bandeirinhas, comidas e bebidas típicas? Antes do sim ou não, cabem algumas explicações.

Umbandistas comemoram as festas juninas de forma quase automática, visto que o sincretismo religioso segue vivo em muitos aspectos com a herança católica presente em grande parte dos terreiros. Danças, comidas e bebidas típicas, fogueiras e indumentárias caipiras podem sim serem vistas em eventos festivos de muitos terreiros e podem, inclusive, se tornar uma boa fonte de renda para ajudar na manutenção das casas espirituais.

Mas a Festa Junina na Umbanda deve ser encarada como uma herança cultural de cruzamento entre tradições mais do que religiosas, visto que as festas evocam características do povo brasileiro, principalmente do interior. Suas raízes católicas e portuguesas foram se misturando com o dia a dia do povo brasileiro e hoje temos celebrações muito diferentes em cada localidade do Brasil.

Festa Junina na Umbanda: adaptação com respeito?

Sabemos que a Umbanda incorporou práticas do catolicismo, do espiritismo kardecista e das religiões africanas trazidas pelos povos negros aqui escravizados. Os rituais da Umbanda normalmente envolvem oferendas, danças, cantos e a incorporação de espíritos arquetípicos como Caboclos, Pretos Velhos e Malandros entre muitos outros.

Isso, por si só, já seria suficiente para que Festa Junina na Umbanda fosse um tema a ser desconsiderado, pois a Umbanda não necessitaria de mais influências externas para seguir seu caminho. No entanto, a Umbanda sempre se mostrou permeável, com uma incrível capacidade de absorver e adaptar elementos de outras tradições, incluindo as Festas Juninas.

Na prática, a celebração da Festa Junina na Umbanda tornou-se algo comum, com danças, comidas típicas e fogueiras, similares às celebrações tradicionais. Nada impede que a Festa Junina na Umbanda possa incluir elementos específicos da religião, honrando também os Orixás e Guias Espirituais sem prejuízo para as demais tradições.

Sincretismo Religioso: superação ou conveniência

Sabemos que há no Brasil um forte movimento de afirmação na Umbanda que busca questionar a validade do sincretismo religioso nos dias atuais. O sincretismo religioso é uma característica marcante da Umbanda, pois devido a ele nossa religião encontrou formas de resistir e progredir em adeptos, adaptando práticas e associando as figuras dos santos católicos às dos Orixás e Guias Espirituais.

Na Festa Junina na Umbanda o sincretismo colabora para que elementos tradicionais da celebração possam ser reinterpretados como, por exemplo, a fogueira de São João sendo associada a Exu, Orixá ligado às encruzilhadas e ao fogo. Essa integração de símbolos e práticas não é um desrespeito e sim uma demonstração de capacidade da Umbanda de dialogar com outras tradições culturais e religiosas, respeitando uma demanda cultural latente em todo o povo brasileiro.

Seguindo no exemplo das fogueiras, além de seu significado tradicional de celebração e purificação, podem ser vistas como instrumentos para atrair boas energias e afastar negatividades. As comidas típicas, preparadas com devoção, podem ser oferecidas inicialmente como oferendas aos Orixás e Guias e, só depois, compartilhadas entre os irmãos e irmãs de terreiro, seja com a participação de muitos em seu preparo, seja com a venda de porções diversas para que o montante arrecadado colabore com as ações futuras dos terreiros.

Vale lembrar também que a Festa Junina na Umbanda – assim como as demais festas – é uma oportunidade de fortalecer os laços comunitários do povo de axé. Os terreiros se tornam espaços de encontro e confraternização, onde os praticantes e simpatizantes da religião se reúnem para celebrar, compartilhar alimentos e participar de rituais específicos.

Esse congraçamento se faz necessário para que as relações possam ser fortalecidas, aproximando irmãos e irmãs que nem sempre tem tempo e oportunidade para conversar, trocar ideias e experiências, aumentando assim a sensação de pertencimento e união.

Umbanda está em constante evolução

Com ou sem sincretismo, a Umbanda segue em constante evolução. O astral frequentemente apresenta novas figuras arquetípicas aos médiuns (Linha do Oriente, por exemplo), mas não apenas isso. Mães e Pais de Santo costumam introduzir novos olhares e práticas no dia a dia de terreiro, novas interpretações ritualísticas e ajustes que julgam necessários para os eventos públicos. Tudo isso faz com que a Umbanda siga sendo uma religião dinâmica e cada vez mais relevante no Brasil. E as Festas Juninas, de certa forma, são parte desta inovação.

Afinal, podemos ou não comemorar?

Sim! A Festa Junina na Umbanda pode inclusive se tornar um evento dos mais importantes do ano para os terreiros Brasil afora. Os dirigentes devem, contudo, cercar-se de justificativas plausíveis e objetivos específicos ao proporem eventos assim em suas comunidades. Uma das boas formas de se fazer isso é deixar claro o que será feito dos rendimentos obtidos com ingressos, venda de comidas e bebidas e outros itens, despertando assim o engajamento de todos.

É importante também lembrar que a intolerância religiosa ainda muito presente no dia a dia da Umbanda poderá surgir de fora para dentro, sobretudo quando o assunto é uma celebração ligada ao catolicismo. Daí a importância de esclarecer e divulgar com sabedoria os objetivos das festas a que se propõe realizar, seja elas menores ou com a presença de públicos externos.

Por fim, é possível dizer que a Festa Junina na Umbanda é uma oportunidade para reunir a comunidade, fortalecer laços e demonstrar respeito por uma das mais lindas celebrações culturais do Brasil.

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