Umbanda: religião brasileira e sua riqueza
Religião brasileira pressupõe origem nacional, porém não significa que tudo “brotou” aqui.
Descrever os tratamentos espirituais experienciados em um Terreiro de Umbanda, ou ainda tentar explicar com riqueza de detalhes a grandiosidade que é a religião Umbanda, não é uma tarefa simples.
Isso ocorre porque, sintetizar uma religião secular requer responsabilidade com a história e com a tradição, com a seleção dos fatos, com a ancestralidade e, principalmente, para com os mentores espirituais que transmitiram todos os conceitos e rituais da religião brasileira Umbanda do plano astral superior para levar os desígnios dos mentores espirituais rumo a um novo momento planetário.
Apesar do desafio, o que este texto se propõe a fazer aqui é uma explanação de alguns dos conceitos que tratam das noções dos fundamentos da religião brasileira, dos seus rituais e dos seus processos.
Entendendo o Conceito de Religião
Antes de começar a falar especificamente da Umbanda, é preciso debruçar-se sobre o primeiro conceito que ajudará a lançar luz no momento seguinte e elucidar outros entendimentos.
Para isso, precisamos começar com a definição da palavra religião, que pode ser definida como um conjunto de princípios, valores morais, manifestações da fé humana e a forma de se relacionar com o divino e com a espiritualidade.
Cada religião tem um conjunto de preceitos, formas de expressão, rituais, cerimônias, símbolos e tradições próprias, que perpassam diversos momentos da história da humanidade, além de se modificar e se adaptar às novas demandas da sociedade de uma determinada época.
Dessa maneira, a religião costuma oferecer formas de ajudar o homem a encontrar paz, redenção, consolo, esperança e felicidade, além de se propor a levar amparo para as dificuldades cotidianas.
O nascimento da Umbanda
Partindo desta primeira definição, temos que a Umbanda é uma religião brasileira, fundada em 15 de novembro de 1908, no estado do Rio de Janeiro, na cidade de Niterói. A Umbanda, assim como o catolicismo, o espiritismo ou o budismo, por ser definida como uma religião, tem uma doutrina própria, sacramentos, fundamentos e liturgia.
Apesar de existir um ponto de partida que a caracteriza, há diferenças nas práticas da Umbanda pelo fato de haver cultos de diferentes influências, as quais explicaremos resumidamente mais adiante.
A Umbanda nasce no Brasil com Zélio Fernandino de Moraes, considerado anunciador da religião, quando tinha apenas 17 anos, sob incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que vem revelar que a partir da data de 15 de novembro de 1908 passa a ser o fundador da religião brasileira.
Embora diversas manifestações já acontecessem desde o final do século XIV em rituais miscigenados, foi só a partir desta anunciação que a Umbanda nasce, pois, é a partir deste momento em que se determina e se estabelece como serão os rituais religiosos de Umbanda.
Práticas e fundamentos da Umbanda
Um dos traços primordiais que marcam a religião é existir desde o princípio o acolhimento de todas as pessoas das mais variadas etnias, e existir a preocupação com as questões sociais, já que nas práticas das religiões da época, como no catolicismo e no kardecismo, negros e índios eram desprezados e lhes eram negados a identidade e o direito à expressão religiosa.
Na Umbanda, os negros e os índios não só eram participantes como tinham seu protagonismo evidenciado, já que foi um Caboclo que se manifestou do plano astral e fundou a religião brasileira.
Desta integração entre negros, índios e brancos ocorreram as primeiras manifestações de incorporação de entidades espirituais miscigenadas, na forma de Pretos Velhos (uma das linhas de trabalho das entidades na Umbanda caracterizada sobre o arquétipo de velhos africanos que foram escravizados e viviam nas senzalas), e de Caboclos (uma das linhas de trabalho da Umbanda que se manifesta sobre o arquétipo do índio).
Esse traço universalista aparece em outro aspecto muito importante na formação da Umbanda, que é o sincretismo religioso. O Sincretismo se caracteriza por uma fusão de uma ou mais culturas que dão origem a uma nova.
Alexandre Cumino, autor de mais de dez livros sobre Umbanda, médium de Umbanda e responsável pelo Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca, explica no documentário “O que é Umbanda”, disponível no YouTube, que o sincretismo religioso aparece em diversos aspectos do todo que compõe a religião.
Segundo Cumino, o sincretismo religioso da Umbanda é um espelho da cultura brasileira que também é sincrética. Ele exemplifica no documentário que a Umbanda tem em comum com o espiritismo a mediunidade e a manifestação dos espíritos; com o candomblé, o culto aos orixás, orixás estes que encontram seus correspondentes com os santos católicos.
Apesar de existirem também semelhanças com outras várias religiões, como o xamanismo e o catimbó, ele nos explica no vídeo que as semelhanças não fazem a Umbanda ser a mesma coisa que as outras religiões citadas.
Apesar de o sincretismo estar presente, não é exclusividade da Umbanda e não tira dela o seu caráter particular.
Para exemplificar o sincretismo religioso da Umbanda, pode-se citar a correspondência entre as entidades cultuadas na Umbanda e os santos católicos, aos quais são associados.
Oxalá, entidade cultuada na Umbanda, sincretiza Jesus no catolicismo. Iemanjá sincretiza com Nossa Senhora dos Navegantes, Ogum com São Jorge e assim por diante.
Na Umbanda, as diferentes formas de cultuar o sagrado e a variedade de ritos trazidos das várias influências sofridas, como as tendências mais ligadas à tradição africana, ameríndia ou até mesmo aspectos de cura ligados a entidades dos povos do oriente, tem um papel muito importante para um momento de favorecimento da paz entre os povos e traz uma compreensão pluralista de religião, caminhando para um conceito de reconciliação universal.
Alexandre Cumino também contribuiu com diversos conceitos essenciais acerca da Umbanda em seu livro Fragmentos de Umbanda, publicado pela Madras Editora.
Ele explica no livro que a teologia da Umbanda é libertadora, não tem dogmas, não tem tabu e questiona todas as coisas. Para ele, a verdadeira Umbanda não aceita verdades prontas e também não propaga verdades absolutas, pelo contrário: relata que é natural existirem diferenças entre os templos porque eles são dirigidos por sacerdotes diferentes.
Ele explica no livro que um templo dirigido por um filho de Ogum será naturalmente diferente de um templo dirigido por um filho de Oxum. Para o autor, as influências regionais e culturais também caracterizam traços únicos para os templos, pois as pessoas são únicas e diferentes.
A Rito-Liturgia da Umbanda, religião brasileira
A liturgia do movimento umbandista tem fundamentos próprios, mas dão origem a várias ramificações. As entidades das linhas de trabalho são espíritos que se manifestam no ritual pela incorporação e representam arquétipos que precisam ser trabalhados naquele momento.
Por isso a diferença entre os Terreiros, porque cada um é regido por uma entidade que trabalha um aspecto diferente.
Os rituais da Umbanda são ricos, carregam muita simbologia e magia. Neles, as pessoas são preparadas para um trabalho espiritual. Segundo descrito no livro “Umbanda, a Proto-Síntese Cósmica” do autor Yamunisiddha Arhapiagha (F. Rivas Neto), publicado pela Editora Pensamento, os rituais de Umbanda possuem três partes: a primeira parte é a preparatória, a segunda a atração de forças e a terceira é a movimentação dessas forças segundo o objetivo visado.
Segundo o livro, o recinto onde são praticados os rituais de Umbanda deve ser simples já que a religião quer os simples de coração. Outro aspecto importante da ritualística relatado no capítulo XIV, sobre a Rito-Liturgia, é a importância simbólica que carrega o número 7.
As linhas da Umbanda são 7 e correspondem às 7 linhas de Deus, que são as sete vibrações irradiadas dos Orixás. O número 7 aparece também na disposição das imagens no altar, ou no desenho do pentagrama caso seja utilizado uma mesa para dispor as imagens, fixado por 7 cruzes e por 7 pontos, representando os 7 princípios da Umbanda.
É comum também nas práticas da Umbanda existirem oferendas aos Orixás, como formas de agradecimento, como a oferta de flores, bebidas, ervas e frutas, pois cada elemento deste tem uma vibração energética positiva, e quando intencionada para o bem, ativa as ligações com os Orixás.
Também são muito comuns os banhos ritualísticos, que utilizam determinados elementos da natureza afim de fornecer equilíbrio energético e mental. Um bom exemplo disso são os rituais com sal grosso, que são usados não só na Umbanda como em muitas outras religiões.
Com o passar do tempo, a Umbanda vem ganhando popularidade, mas mesmo assim continua sofrendo muita discriminação, como podemos notar sempre que assistimos a um noticiário informando sobre ataques aos templos de Umbanda.
A ideia reconhecida popularmente pela maioria das pessoas do que é Umbanda é equivocada e surge provavelmente de uma experiência com uma casa que se autodenomina Umbanda, sem que de fato seja.
Segundo Yamunisiddha Arhapiagha (F. Rivas Neto) no livro “Umbanda — A Proto-Síntese Cósmica”, é comum de se encontrar pessoas que decidiram chefiar uma casa espiritual sem que se preocupassem se estão aptos a vibrar nessa missão.
É daí que surgem casas espirituais espelhadas em médiuns inexperientes que ignoram a decisão do plano astral e caminham sobre os próprios níveis conscienciais. O que se vê, muitas vezes, são casas espirituais que passam a ser dirigidas por seres atrasados espiritualmente e que trabalham para o mal.
Por isso o estudo da religião se faz tão importante tanto por parte de quem não conhece a Umbanda, como por parte dos dirigentes. É da ignorância que surge uma tremenda confusão do que é e do que não é Umbanda.
Mas uma coisa é certa: a Umbanda só faz o bem. Se alguém se denomina umbandista e oferece “tratamento” de amarração, com simpatias de separação, ou intui o mal na forma que for, isso não é Umbanda.
Umbanda é servir o bem e para o bem.