Honra, caráter e honestidade: precisamos de mais Ogum em nossas vidas?
Honra, caráter e honestidade. Estamos falando de Ogum, certo? No entanto, por mais que se discuta, ainda é praticamente impossível falar de Ogum sem relacioná-lo a São Jorge, santo católico com o qual ele se apresenta sincretizado culturalmente no Brasil.
Sincretismo não é algo ruim por si só. Serve, num primeiro momento, para inserir uma divindade desconhecida em determinada cultura, sobretudo em casos como o brasileiro onde os povos negros eram escravizados e impedidos de se manifestarem em quase tudo, incluso suas crenças religiosas, embora fossem maioria.
Com o tempo, não apenas a abolição da escravatura como também a lenta inserção das religiões de matriz afro-brasileiras em nossa sociedade, foram gerando discussões teológicas e comportamentais, levando ao descolamento natural de São Jorge e Ogum em muitas tradições e templos de Umbanda. OK, mas por que isso é importante?
Caráter e honestidade: o sincretismo também explica
Voltemos então ao sincretismo apenas pinçar algumas características do santo católico que realmente se aproximam das qualidades do nosso Orixá em questão. Jorge, nascido na Capadócia (Turquia) no século III d.C., tornou-se capitão romano com apenas 23 anos graças à sua firmeza de caráter e honestidade com seus pares.
Segundo relatos históricos, negou-se a matar cristãos em nome do imperador Diocleciano, afirmando também que os ídolos adorados nos templos pagãos romanos eram falsos deuses. Torturado, nunca cedeu e manteve-se fiel às suas crenças, até que foi degolado em 23 de abril de 303.
Em pouco tempo tornou-se símbolo de coragem, honra, força, fidelidade, caráter e honestidade. É o santo guerreiro da fé, a quem os católicos clamam quando precisam tomar decisões difíceis, que envolvem disputas e embates.
Já Ogum é considerado o porto seguro, o senhor da Lei e vencedor das demandas. Atua na ordenação divina e é clamado por direção e caminho. É o protetor dos que lidam com a agricultura e trabalhos manuais, com o ferro, o fogo, a metalurgia, amparando-nos diante das batalhas contra o opressor.
São Jorge e Ogum estão fazendo falta. As sociedades modernas em que vivemos fecham os olhos para injustiças e desmandos. Desrespeitam a hierarquia e a relação com o próximo. Palavras são proferidas ao vento, fazendo da honestidade um horizonte distante. Até as leis, bases fundadoras do atual Estado Moderno de Direito, se mostram maleáveis aos ricos e influentes enquanto são duras e implacáveis com os mais pobres.
Que o exemplo de Jorge, personagem histórico, e de Ogum, orixá da Lei e da Ordem na Umbanda, desperte em nós a necessidade de sermos humanos melhores. E que, cada vez mais, integridade, respeito, honra, caráter e honestidade não sejam diferenciais e sim qualidades corriqueiras de todos nós. Sejamos todos, desde já, guerreiros!
Este texto foi publicado originalmente na edição número 5 da Revista Kobá.