Benzer na quaresma: quem disse que você não pode?
Quem disse que você não pode benzer na quaresma? Esta é a primeira e mais importante pergunta que faço a vocês.
Onde fica a herança de fé, que herdamos de nossos antepassados?
Estamos no período da quaresma e muito se fala de uma prática distante entre Umbanda e Catolicismo.
Concordo com esse ponto de vista, mas não posso negar o fato de que, por décadas, o cristianismo deu tom, forma e horizonte para uma prática de fé nos terreiros de nossa gente.
Sim! Compreendo que por um ato de proteção aos cultos, o enlace entre as práticas aconteceu no Brasil.
No entanto, a questão é: muitos acabam por resumir a figura de um homem a uma religião em detrimento a outras, como se sua passagem por aqui não tivesse serventia para toda a coletividade.
Reafirmando: Jesus não é propriedade de nenhuma religião! Assim como tantas outras, ele é uma figura histórica!
A prática da quaresma como um ato de purificação e reestrutura do corpo tem origem no catolicismo, tendo como base o cristianismo. O conceito de purificação neste contexto induz a uma ideia de que estamos “sujos”, “impuros”, necessitados de uma reconexão interna.
Porém, vale lembrar que Jesus nunca obrigou ninguém a nada! Tão pouco apontou impurezas ou determinou tempo, hora e data para que as escolhas inerentes a cada um de nós acontecessem assim ou assado. Benzer na quaresma (ou não), portanto, algo facultativo.
Ainda que exista a quaresma, devemos lembrar que o aspecto mais profundo de toda essa questão é a mudança que podemos perceber quando nos colocamos no exercício do bem-querer. Esse exercício começa quando retiramos o julgo de nossas práticas diárias como forma de opressão e elevação de nossas verdades.
Sempre gosto de indicar o seguinte pensamento: como os nossos ancestres viveriam sob “nossas verdades” atuais?
Digo isso, pois me pergunto o que nossos avós fariam se disséssemos a eles que seguir o sentimento intuído por práticas cristãs estão erradas!
Benzer na quaresma, então… sacrilégio, diriam outros…
Em contrapartida, penso que ficar 40 dias em jejum não é válido. Afinal, quando de nós (ou tantos outros) continuamos com nosso modo mecânico, competindo, falando, exagerando, silenciando…
Para fechar, respondendo as perguntas do início (sobre poder ou não benzer na quaresma), eu digo sim!
Sim! Podemos benzer neste período, principalmente nós mesmos! A dor e a angústia não marcarão na agenda a chegada para depois da Páscoa.
Com amor, sempre com amor!
Texto produzido por Pris Mariano, pedagoga e psicopedagoga, reikiana, médium e filha da Umbanda do Oriente, praticante da magia oracular, neta de rezadeira, herdeira da fé de sua mãe. Conhecida por seu trabalho musical na dupla Rosa Amarela, em parceria com Rodrigo Di Castro, é motivada pelo autoconhecimento, respeito e valorização das múltiplas formas de fé. Em 2020 criou o primeiro grupo de estudos sobre Benzedura Ancestral e o Círculo de Reza, que promove ao vivo em seu Instagram com enorme sucesso. Esses estudos deram origem ao e-book Benzedura Ancestral, lançado em parceria com o Umbanda Eu Curto, além de cursos e oficinas online.