Acervo Nosso Sagrado da Umbanda e Candomblé será liberado

Acervo Nosso Sagrado é composto por 519 peças que foram apreendidas pela polícia na virada do século XIX para o XX e estava armazenado em caixas no Museu da Polícia há mais de vinte anos. Agora, finalmente serão liberados e integrados permanentemente ao Museu da República, no Rio de Janeiro.

Conhecido como Acervo Nosso Sagrado, o conjunto permaneceu por quase um século no Museu da Polícia do Estado do Rio e a cessão definitiva para a instituição federal acontecerá no dia 19 de junho de 2021.

Os importantes objetos da Umbanda e Candomblé como instrumentos musicais, fios de contas, imagens de santos católicos, tambores, atabaques e roupas ritualísticas estavam guardados em caixas, todas com acesso vetado ou muito restrito de pesquisadores e aos integrantes de religiões afrobrasileiras.

“Agora, a coleção Acervo Nosso Sagrado ganha nova vida, encarna novos sentidos e significados, projeta-se mais viva e mais livre num futuro que há de trazer mais conhecimento, mais pesquisa, mais ações educacionais e mais força para combater o racismo religioso”, disse à revista Veja Rio o diretor do Museu da República, Mário Chagas.

Como o Museu da República ainda está fechado à visitação pública por causa da pandemia, ainda não há data para que o Acervo Nosso Sagrado comece a ser exposto.

História do Acervo Nosso Sagrado

O conjunto de peças começou a ser coletado há mais de 100 anos pela polícia como “evidência de crime”. Pessoas foram processadas à época por não serem católicas. Agora, faz parte da história oficial do Brasil.

De 1890 a 1941, Mães e Pais de Santos em todo o país foram parar em delegacias acusados de ser “feiticeiros”, “bruxos” e praticantes de “magia negra” porque o Código Penal, de 1891, tinha dois artigos que puniam, respectivamente, “a prática do espiritismo, da magia e dos sortilégios” e o dito “curandeirismo”.

Integrantes da Umbanda e do Candomblé passaram a ser identificados como praticantes de um suposto “baixo espiritismo”, em oposição aos espíritas kardecistas, tidos como “alto espiritismo”.

A revista Época identificou, com auxílio de pesquisadores, que ao menos 822 pessoas foram presas nesse período com essas acusações e junto com elas foram levados seus objetos.

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Foto: Reprodução

Dentre os itens, destasque para uma peça de ferro e cerâmica que representa uma cabeça do “Caboclo Lalu” que foi apreendida com uma mulher chamada Luzia Cardoso, presa em 1934. A peça chegou a ser periciada pela polícia da época que concluiu “positivamente” que a Mãe de Santo exercia a prática de “baixo espiritismo”.

Luzia ficou presa até pagar a fiança. Um ano depois foi absolvida, mas teve que negar que estivesse praticando qualquer religião no momento em que foi presa. Os tempos são outros, mas devemos continuar vigilantes para que nossa sociedade seja cada vez menos intolerante em todos os sentidos.

Foto principal
Leo Martins/Agencia O Globo (Reprodução)
Foto interna
Divulgação
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