Exu Vazio Absoluto e Oxalá Espaço Infinito
Vazio Absoluto (Exu) e Espaço Infinito (Oxalá). Vamos explicar.
Muitos tem Exu como o primeiro Orixá gerado.
Por isso, tem a primazia no culto.
Então, essa primazia se justifica se entendermos a Criação como um encadeamento de ações divinas destinadas ao surgimento do Universo e dos meios para que os seres pudessem evoluir.
Assim, nós aprendemos que dois corpos não ocupam o mesmo “espaço”.
A partir daí, deduzimos que para haver o espaço tinha de haver algo em outro estado que permitiu a criação de uma base estável.
Então, para que, aí sim, tudo pudesse ser criado.
Ao passo que esse estado é o de “vazio”.
Pois só não havendo nada dentro dele é que algo poderia ser criado e concretizado, mas como outro estado.
Então, unindo o primeiro Orixá (Exu) e o primeiro estado da Criação (o vazio absoluto), temos a fundamentação do Mistério Exu.
Portanto, o Mistério Exu é em si o “vazio absoluto” existente no exterior de Deus e guarda-o em si.
Deus (Olorum) lhe dá a existência e sustentação para que, a partir desse estado, tudo o que é criado tenha seu lugar na criação.
Por ser Exu o guardião do vazio absoluto, e este ter sido o primeiro estado da Criação manifestado por Deus, então Exu é, de fato, o primeiro Orixá manifestado por Ele.
Logo, Exu é o primeiro Orixá, o mais velho de todos, o primeiro a ser cultuado.
Igualmente, por ser e trazer em si o vazio absoluto, tem que ser invocado e oferendado em primeiro lugar.
Da mesma maneira, deve ser “despachado” de dentro do templo e firmado no seu exterior para que um culto possa ser realizado.
Pois, se assim não for feito, a presença de Exu dentro do templo implica a ausência de todos os outros Orixás, já que seu estado é o do “vazio absoluto”.
Porque junto com o Orixá Exu vem o vazio absoluto.
Pois, nesse estado de vazio, não é possível fazermos nada.
Logo, a ato de invocar o Orixá Exu em primeiro lugar é correto.
Porque, antes de Olorum manifestar os outros Orixás, manifestou-o e criou o vazio absoluto à sua volta.
Assim, o ato de oferendá-lo antes dos outros Orixás está fundamentado nessa sua primazia.
Pois não se oferenda primeiro ao segundo Orixá manifestado, e sim ao primeiro.
Assim também o ato de despachá-lo para fora do templo tem fundamento.
Pois se ele está presente dentro do templo, com ele está o seu “vazio absoluto”, no qual nada existe.
Então, é preciso despachá-lo e assentá-lo no exterior do templo, para que outro estado se estabeleça e permita que tudo aconteça.
Vamos avançar um pouco mais na interpretação das necessidades primordiais para que tudo pudesse ser “exteriorizado” por Deus.
Como no “vazio absoluto” (Exu) não havia como se sustentar em alguma coisa, eis que, após esse primeiro estado da Criação, Olorum manifestou o seu segundo estado: o “estado do espaço”!
Dessa forma:
• O vazio absoluto é a ausência de algo.
• O espaço é a presença de um estado.
Afinal, Deus (Olorum) criou o espaço “em cima” do vazio absoluto.
Logo, se antes só havia o vazio absoluto, o espaço foi criado dentro dele e, à medida que o espaço foi se ampliando.
E então o vazio absoluto foi distendendo-se ao infinito.
Isso para que pudesse abrigá-lo e permitir-lhe ampliar-se cada vez mais, de acordo com as necessidades da mente criadora de Olorum.
Dessa forma, aqui já entramos na genealogia (no nascimento) dos Orixás e em uma teogonia a partir dos estados da Criação.
Esse segundo estado (o espaço) dentro do primeiro (o vazio absoluto) criou uma base que se amplia segundo as necessidades do Criador.
E então começa a nos mostrar os Orixás como estados da Criação.
Pois se Exu é o vazio absoluto, o Orixá que é em si o espaço se chama Oxalá.
Sim, Oxalá é o espaço infinito.
Porque é capaz de conter todas as criações da mente divina do nosso Divino Criador.
Porém, o que nos levou à conclusão de que Oxalá é em si o mistério do “espaço infinito”?
De fato, o mito revela-nos que Olorum confiou-lhe a função de sair do seu interior e começar a criar os mundos e os seres que os habitariam.
Em virtude de que algo só pode ser criado se houver um espaço onde possa ser “acomodado” e antes só havia o “vazio absoluto” à volta de Olorum, assim que Oxalá saiu (foi manifestado), com ele saiu seu estado (o espaço infinito).
E este se expandiu ao infinito dentro do vazio absoluto.
A saber, o espaço não é maior ou menor que o vazio.
Porque são estados, mas ambos são bem definidos:
• o vazio absoluto é o estado de ausência de qualquer coisa (o vazio).
• o espaço infinito é o estado de presença de alguma coisa (a ocupação).
Portanto, como Olorum tem em si tudo, e tudo ocupa um lugar no espaço, então Oxalá, como estado preexistente em Olorum, já existia no seu interior.
E, como a mente criadora de Olorum ocupa um espaço, este era Oxalá.
Pois foi a Oxalá que Ele confiou a missão de criar os mundos e povoá-los com os seres que seriam criados.
Logo, Oxalá traz em si esse estado de espaço infinito que pode abrigar nele tudo o que for criado pela mente de Olorum.
Portanto, Oxalá também traz em si o poder criador.
Pois, se não o trouxesse em si, não poderia dar existência no espaço infinito ao que só existia na mente criadora de Olorum.
O vazio absoluto é um estado e não algo mensurável.
O espaço infinito, ainda que não seja mensurável, é a existência de algo.
E, como esse algo denominado “espaço infinito” se abriu e expandiu-se dentro do vazio absoluto, criaram-se dois estados opostos complementares:
• O vazio absoluto
• O espaço infinito
Assim, Exu e Oxalá são ligados umbilicalmente por causa desses dois primeiros estados da criação.
Exu é o vazio exterior de Olorum e Oxalá é o seu espaço exteriorizado.
Exu é a ausência e Oxalá é a presença.
Em Exu nada subsiste e em Oxalá tudo adquire existência.
Exu, por ser o vazio absoluto, nada cria em si.
Em Oxalá, por ele ser o espaço em si mesmo, tudo pode ser criado.
Exu e Oxalá são opostos complementares.
Porque sem a existência do vazio absoluto o espaço não poderia se expandir ao infinito.
Como ambos são estados, não são antagônicos, pois onde um está presente, o outro está ausente.
Assim, o vazio absoluto é anterior ao espaço infinito.
E, porque é anterior, Exu é o primeiro Orixá manifestado por Olorum e detém a primazia.
Por fim, se tudo preexistia em Olorum, ainda que não fosse internamente o Orixá mais velho é, no entanto, o primeiro a existir no seu exterior.