Umbandas ou Vertentes e suas manifestações

Umbandas ou Vertentes de Umbanda podem ser observadas na religião desde o início da religião, mas há quem defenda um “tipo ideal” de Umbanda, descartando outras formas de praticá-la.

Assim, uns reconhecem e outros negam as várias Umbandas ou Vertentes, aceitam ou refutam a “Umbanda do outro umbandista”.

O que deveria ser corriqueiro, afinal, é acreditar que podemos trilhar um caminho do meio no qual a Umbanda é uma na essência com diversas formas de manifestação, seja em território nacional ou fora dele. O UM da Unidade e a BANDA da Diversidade.
O Uno e o Verso deste universo umbandista. Pois somente assim a liberdade litúrgica pode permitir certas variantes, desde que estas não desvirtuem seus fundamentos básicos. Noutras palavras, a pluralidade deve existir enquanto não coloca em risco a unidade.

Mas o que seria este tal conceito de unidade ou fundamentos básicos? Por unidade podemos entender tudo aquilo que é essencial para a prática da Umbanda, aquilo que deve estar presente em todas as formas de manifestação umbandista (ou pelo menos na maioria delas). Portanto, é pela unidade em seu propósito que definimos Umbanda e não pela diversidade de práticas internas, que são as diversas maneiras de praticar esta unidade, os as partes deste TODO.

Por exemplo, podemos ter como fundamento básico de sua unidade a definição de Umbanda, primeira, dada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, por meio de seu médium Zélio de Moraes, em 1908: “Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade”. De forma geral, podemos dizer que esta definição faz parte da tal unidade que estamos tratando aqui.

Outro aspecto muito importante é não cobrar pelos atendimentos mediúnicos e trabalhos realizados dentro do terreiro. Ou seja: Umbandas ou vertentes de Umbanda podem existir várias, mas nenhuma delas deve valer-se da religião praticada no chão de terreiro para cobrar algo para realizar trabalhos espirituais. Logo, ela pode ter variantes, mas nenhuma das tais deve apresentar-se cobrando para realizar trabalhos espirituais.

Ainda dentro dessa tal unidade universalista, que deve ser comum às Umbandas ou vertentes, é a famosa máxima de “aprender com quem sabe e ensinar para os que sabem menos. A experiência de terreiro é, antes de tudo, uma relação social e humana, dotada de todos os detalhes e implicâncias que essas relações contém.

Hierarquia, acolhimento, ensinamentos práticos e muito mais fazem parte da vivência prática da Umbanda e devem ser valorizados nas Umbandas ou Vertentes de Umbanda. É claro que, com o desenvolvimento da religião, muitos cursos presenciais e online estão surgindo e podem complementar o aprendizado de todos. Mas o aprendizado por proximidade e afeto deve sempre ser exaltado e estimulado nos terreiros.

Umbandas ou vertentes, antes de mais nada, a discussão deve ser: que todos pratiquemos Umbanda. Afinal, Umbanda é amor, fé e caridade, conceitos estes também trazidos pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas há mais de 100 anos. Guardando esta máxima e buscando sempre esta unidade, muitos assumem para si um posicionamento dentro da pluralidade (e isso não é necessariamente errado ou ruim. Vejamos abaixo um pouco desta diversidade:

UMBANDA BRANCA

O termo pode ter surgido da definição de Linha Branca de Umbanda usada por Leal de Souza, primeiro autor umbandista e médium preparado por Zélio de Moraes. A ideia é a de que a Umbanda era uma “Linha” do Espiritismo ou uma forma de praticar Espiritismo. Nos últimos anos, graças ao desenvolvimento de uma visão inclusiva e de um discurso antirracista, o termo tem sido alvo de críticas e, cada vez mais, menos utilizado.

UMBANDA PURA

Conceito usado no Primeiro Congresso de Umbanda em 1941, adotado pelo o grupo que assumiu esta responsabilidade e lutou pela legitimação da religião na década de 1940. Se foi importante há cerca de 80 anos, hoje serve apenas como algo digno de nota, com valor historiográfico.

UMBANDA POPULAR

É a prática da religião de Umbanda sem muito conhecimento de causa, sem estudo ou interesse em entender seus fundamentos. Umbandas ou Vertentes de Umbanda podem ser observadas na religião desde o início da religião, mas há quem defenda um “tipo ideal” de Umbanda, descartando outras formas de praticá-la.

UMBANDA TRADICIONAL

Serve tanto para identificar a “Umbanda Branca”, “Umbanda Pura” ou “Umbanda Popular”. São as formas mais antigas e conhecidas de praticar Umbanda, muito embora este perfil esteja mudando rapidamente, bem como estas qualificações.

UMBANDA ESOTÉRICA ou INICIÁTICA

É uma forma de praticar a Umbanda fundamentada no esoterismo europeu. Foi idealizada com inspiração na obra de Blavatski, Ane Bessant, Saint-Yves D’Alveydre, Leterre, Domingos Magarinos, Eliphas Levi, Papus e etc. O primeiro autor que trouxe este tema para a literatura umbandista foi Oliveira Magno, 1951, com o título A Umbanda Esotérica e Iniciática.

UMBANDA TRANÇADA, MISTA e OMOLOCÔ

Umbanda com maior influencia dos Cultos de Nação ou Candomblé. Alguns chamam esta variação de Umbandomblé. Dentre as Umbandas ou vertentes que buscamos caracterizar aqui, esta é uma das que mais se espalhou por todo o país e, é claro, com ainda mais diferenciações ritualísticas internas. O autor, médium, sacerdote e presidente de Federação que mais defendeu esta forma de praticar Umbanda foi o conhecido Tata Tancredo, que escreveu a obra Doutrina e Ritual de Umbanda, em 1951, em parceria com Byron Torres de Freitas.

UMBANDA DE CABOCLO

É uma variação de Umbanda onde prevalece a presença do Caboclo, acreditando que a Umbanda é antes de mais nada a prática dos índios brasileiros. Decelso escreveu o título Umbanda de Caboclo para explicar esta forma de Umbanda.

UMBANDA DE JUREMA

Forma combinada com o Catimbó Nordestino. Seu principal fundamento é o uso da Jurema Sagrada, como bebida e também misturada no fumo. Deste culto, a Umbanda herdou a manifestação do Mestre Zé Pelintra, que pode vir como Exu, Baiano, Preto Velho ou Malandro.

UMBANDA CRISTÃ

Ao dizer qual seria o nome do primeiro Templo da religião, Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, porque “assim como Maria acolheu Jesus da mesma forma a Umbanda acolheria os filhos seus”, o Caboclo das Sete Encruzilhadas já dava uma diretriz cristã a nova religião. Jota Alves de Oliveira escreveu um título chamado Umbanda Cristã e Brasileira: A Orientação Doutrinária do evangelizado Espírito do Caboclo das Sete Encruzilhadas, o que nos levou a considerar e historiar seu trabalho enriquecido das lições do evangelho de Jesus, com a legenda: Umbanda Cristã e Brasileira.

Outro elemento que endossa a qualidade cristã da Umbanda é o arquétipo dos Pretos e Pretas Velhas, pois são ex-escravizados batizados com nomes católicos e que trazem muita fé em Cristo, nos Santos e Orixás.

UMBANDA SAGRADA ou UMBANDA NATURAL

Quando começou a psicografar e dar palestras, Rubens Saraceni sempre fazia questão de se referir à Umbanda como Sagrada.
Não havia intenção de criar uma nova Umbanda, apenas ressaltar uma qualidade inerente à mesma. Na apresentação de seu primeiro título doutrinário Umbanda – O Ritual do Culto à Natureza, publicado em 1995, afirma que o livro em questão guarda uma coerência bastante grande, o de trilhar num meio termo entre o popular e o iniciático, ou entre o exotérico e o esotérico.

Já no Código de Umbanda, no capítulo Umbanda Natural, cita: Umbanda Astrológica, Filosófica, Analógica, Numerológica, Oculta, Aberta, Popular, Branca, Iniciática, Teosófica, Exotérica e Esotérica e então afirmou que:

Natural é a Umbanda regida pelos Orixás, que são senhores dos mistérios naturais, os quais regem todos os polos umbandistas aqui descritos. Muitos optam por substituir a designação de “Ritual de Umbanda Sagrada”, dada á Umbanda Natural […]

Fica claro que para o autor a Umbanda é algo natural e sagrado, adjetivos que se aplicam ao todo da Umbanda e não a um segmento em particular. No livro As Sete Linhas de Umbanda volta a citar as várias “Umbandas” e comenta que, na verdade, e a bem da verdade, todas são segmentações dentro da religião umbandista […]

Devemos ou não qualificar as Umbandas ou Vertentes?

Há ainda outras qualificações e até as Umbandas ou vertentes deste ou daquele e, por mais válidos que sejam os adjetivos e qualificações, por mais que se auto afirmem ser “a verdadeira” Umbanda, a “Umbanda Pura”, original ou primordial, nenhuma destas partes dá conta do TODO. Noutras palavras, pela “parte” não se define o “todo”.

No entanto, pela “unidade” se busca uma “essência”, um fundamento e base. E é a unidade a sua base fundamental. É possível também praticar as Umbandas ou vertentes, livre de qualificações basta dizer “sou umbandista” e ponto final. Oxalá em mim saúda Oxalá em você!

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