Religiosidade sem fanatismo reduz índices de violência

Religiosidade sem fanatismo é algo desejável. É quase um ponto pacífico para todos. No entanto, cabe, antes de tudo, descrever o que é religiosidade.

Em poucas palavras, é a capacidade que todos podemos desenvolver de estabelecer uma relação com uma prática transcendente baseada na fé, seja ou não institucionalizada.

Já o conceito de religião, por exemplo, difere um pouco, pois pressupõe a existência e repetição de práticas, crenças e ritos específicos, compreendida como meios que levam à relação com o que chamamos de transcendência, algo além, maior do que nós.

Pois bem. Uma tese de doutorado recém defendida destaca os benefícios da religiosidade sem fanatismo.

Essa é uma das conclusões da tese defendida em 2020 por Juliane Piasseschi de Bernardin Gonçalves, no Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Os resultados encontrados pela pesquisadora também apontam que o consumo de bebidas alcoólicas atua como um mediador dessa relação, ou seja: a partir do momento em que a religiosidade sem fanatismo reduz o consumo e a dependência do álcool, ela também diminui os índices de violência, principalmente a doméstica.

“Foi o primeiro trabalho em que avaliamos o padrão de violência e religiosidade de forma mais abrangente”, relata Juliane. “Depois, trabalhamos para compreender como ela se dá em adultos, principalmente nas faixas etárias mais altas, acima dos 24 anos. Esses dados são inéditos no Brasil.”

Religiosidade sem fanatismo é a chave para a redução

Homero Vallada, psiquiatra e professor do Departamento de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina (FMUSP), onde Juliane defendeu a tese, diz que dados desta relação geralmente são encontrados na literatura internacional.

“Podemos imaginar uma curva em “U”, ou seja, quando as pessoas não têm nenhuma religiosidade ou espiritualidade, elas sofrem ou praticam mais violência. A partir do momento que elas começam a ter um contato maior com o sagrado, essa taxa diminui”, explica.

tipo de medium

Mas o que mais chamou a atenção no trabalho, na avaliação dele, foi que os indivíduos muito fervorosos tendem a sofrer ou a praticar mais agressões.

“Quando o processo vira fanatismo, você vira um tipo de padrão ouro: tudo o que se distancia de você é heresia”.

Por outro lado, a religiosidade sem fanatismo pode ajudar muito na redução de vícios e da violência:

“A partir do momento que você está envolvido em um grupo religioso com hábitos saudáveis, você internaliza essa prática”, explica Juliane. “A religiosidade funcionaria como uma sanção natural: se você fizer o mal, será punido”, sugere.

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, estima-se que mais de 1,3 milhão de pessoas morram a cada ano em decorrência da violência, considerada a quarta causa de morte entre pessoas de 15 a 44 anos.

Leia AQUI a matéria completa publicada no Jornal da USP

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