Preconceito religioso contra a Umbanda vem até do Espiritismo

Preconceito religioso contra Umbanda e Candomblé e qualquer outra religião de influências africanas são derivados de antigos impasses na história. Por ora, vamos nos centrar nas questões referentes ao preconceito contra a religião Umbanda e seus impasses com o Espiritismo.

No passado, o Espiritismo chegou ao Brasil e foi escrachado pela Igreja Católica. Seus seguidores e simpatizantes foram perseguidos. A situação era muito delicada, até hoje ainda é possível sentir um resquício desse preconceito religioso.

Bem depois uma religião surgiu através da mediunidade de Zélio de Morais.
Era (é) a Umbanda. Foi através dela que os Pretos Velhos, Caboclos e outras entidades puderam mostrar a sua voz.

Então a ignorância mais uma vez se fez presente e massacra até hoje mais um seguimento espiritualista. Não raro vemos muitos espíritas, ontem vítimas, agora, vociferam seu preconceito mascarado por uma hipocrisia baixa. O preconceito religioso mudou mas continua existindo.

Assim, trago para os leitores um trecho do livro Aruanda, do médium Robson Pinheiro, pelo espírito de Ângelo Inácio, que fala justamente sobre essa polêmica:

“Creio que a atual confusão que se faz nas terras brasileiras quanto ao Espiritismo e à Umbanda fez surgir uma espécie de reserva nos chamados médiuns de mesa em relação aos médiuns de terreiro.
O estigma gerado foi tão grande que os irmãos espíritas parecem ‘tremer nas bases’ toda vez que alguém confunde as duas religiões.

É claro que sou a favor do esclarecimento do povo e da sociedade em geral, mas, primeiramente, é preciso fazê-lo no meio onde impera essa confusão, isto é: entre espíritas e umbandistas.

Por que tanto desconhecimento e mal entendido assim, meu Deus?

Espiritismo é Espiritismo e disso nenhum de nós duvida, assim como Umbanda é Umbanda e não há como deixar de distinguir as duas coisas.
No entanto, a guerra que se faz por aí contra os espíritos que se manifestam como Pretos Velhos e Caboclos é tão grande que serve apenas para fortalecer o preconceito religioso.

Da mesma forma, ninguém ignora que muitas instituições espíritas veneráveis, embora de forma velada, acabaram aceitando a presença desses companheiros desencarnados, como os ‘pais-velhos’.
Eles sabem que a forma exterior não é nada, mas a essência é tudo.

Fico aqui pensando e rascunhando meus escritos:

Será que nossos companheiros de Doutrina Espírita acham que espírito atrasado só pode ser Preto Velho. Será que brancos idosos, com olhos azuis e cabelos loiros, acaso não podem ser espíritos obsessores?

É necessário voltar para o que ensina Allan Kardec em O LIVRO DOS MÉDIUNS. Ele esclarece que o espírita, tanto o evocador quanto os médiuns, deve se ocupar mais com a análise do conteúdo da comunicação que com a forma. Ou ainda com o nome que se manifesta o comunicante. Deve-se observar o que o espírito diz, sua elevação moral.

Mas diante de tanto receio com relação a essa tremenda confusão religiosa, o que muitos estão fazendo é exatamente o oposto do recomendado pelo codificador. Esquecem-se do conteúdo — ou melhor, nem deixam o espírito comunicar-se direito, pois logo querem doutriná-lo.

Só porque resolveu manifestar-se como um Preto Velho!
Também, que assim seja: por que, afinal de contas, ele não escolheu ser um branco-velho? Talvez assim pudesse fazer seu trabalho direito… pelo menos, esse é o pensamento entre muitos espíritas.”

Na obra de Robson Pinheiro, o espírito de Ângelo Inácio estava em uma tarefa de resgate espiritual quando foi apresentado a outros dois espíritos tarefeiros. Eram eles o Silva e o Wallace.

O Wallace tinha sido um grande representante do Espiritismo em São Paulo quando encarnado na Terra. E o Silva era um tarefeiro que havia trabalhado muito no esclarecimento da missão da Umbanda.

Preconceito religioso com a Umbanda não poderia estar mais errado…

Silva, que muito dedicou seu tempo nas questões da Umbanda, agora na vida espiritual pretendia abranger ainda mais os horizontes do entendimento espiritual. Estava buscando os conhecimentos sobre o Espiritismo.

— Devo admitir, meus amigos, que no mundo espiritual as coisas são bem mais fáceis, no que concerne aos estudos. Também pude modificar bastante minha visão e minhas teorias a respeito do Espiritismo, de Allan Kardec e da mediunidade tal como é praticada nas lides espíritas.

— Essa história conheço de perto — afirmou Ângelo Inácio.
— Não é só o espírita que tem preconceito contra os umbandistas, não!
Muitos companheiros da Umbanda acham que os espíritas são fracos ou orgulhosos. Na verdade, a questão aflige é o ser humano.

— Isso mesmo — argumentou Wallace.
— O problema do preconceito está em todo lugar e em toda religião que pretende estabelecer dogmas. Ninguém está imune a isso, não!
A dificuldade está no ser humano que se julga o melhor.
O indivíduo avalia que sua parcela da verdade é maior, mais bonita ou, em casos mais graves, a única verdade.

Assim como em qualquer âmbito da ação do homem, isso ocorre com espíritas, católicos, protestantes ou umbandistas, só para citar algumas denominações religiosas com a finalidade de esclarecer esses e outros aspectos é que estamos estudando.

— (…) Precisamos lutar para abandonar hábitos assim e nos empenhar para o esclarecimento de todos. Afinal, quando a morte do corpo nos surpreende, não somos mais espíritas, muçulmanos, umbandistas ou budistas. Somos apenas filhos de Deus. Nada mais.

Livro citado: Aruanda (de Robson Pinheiro, pelo espírito de Ângelo Inácio), Casa dos Espíritos Editora.

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