Overdose de macumba: isso existe mesmo?

Overdose de macumba é um título chamativo. Afinal, o povo de santo já está acostumado a chamar a Umbanda carinhosamente de macumba, muito embora ainda exista muito preconceito por aí.

Feito o esclarecimento, vamos ao tema!

Nós umbandistas temos um termômetro de identificação que costuma ser bem eficiente: a energia. Quem nunca entrou num local e a primeira coisa que falou (ou sentiu) foi algo do tipo: “Nossa, que energia pesada!” ou o contrário “Que energia boa aqui!”

O mundo é energia e isso vem ficando cada vez mais claro para todos, até para quem não se atentava para isso. Hoje tendemos a entender as diversas formas de manifestação das energias por aí, como a do dinheiro, por exemplo. E há muitas outras por aí.

Porém, é preciso saber dividir a nossa energia para que não falte em algum setor de nossas vidas. Noutras palavras, é preciso manter a energia equilibrada e evitar a tal overdose de macumba.

É neste caso que vejo muitas vezes umbandistas abrirem seus terreiros e abusar desta energia colocada toda num só lugar.

Vejamos. Abre-se um terreiro, que como quase sempre nasce pequeno, poucos médiuns, cambones, etc. Ainda assim o sacerdote insiste em fazer Giras três, quatro vezes por semana e muitas vezes até tarde da noite.

E quase sempre os médiuns da casa não tem coragem de ir contra o sacerdote, não discutem ou questionam essa carga absurda de trabalho e entram em uma rotina extasiante. É a overdose de macumba!

É neste momento que tanto para o sacerdote quanto para os médiuns da casa começa a faltar energia vital para as demais atividades necessárias na vida de cada um como para o trabalho, família, lazer, estudos, etc.

Aí sempre há alguém que começa a procurar os motivos da vida daqueles irmãos e irmãs que passam mais tempo dentro de um terreiro do que em casa estarem com problemas.

Alguns se perguntam como pode ser, já que estão passando a maioria do tempo dentro de um terreiro e, mesmo assim, as “coisas da vida” não andam. Neste processo, chegam até a desacreditar do poder de seus Guias e dos Orixás, culpando-os pelo momento difícil, já que “estão fazendo a sua parte” com dedicação mas não tem o “retorno esperado”.

Acontece que nós umbandistas que enchemos a boca para falar de energia, seja boa ou ruim, esquecemos de que ela precisa estar em equilíbrio. E, caso passemos mais tempo dispendendo energia vital apenas para uma área da vida, certamente irá faltar para outras.

É claro que isso que aqui chamamos de overdose não é algo exclusivo da Umbanda. Infelizmente ocorre em muitas religiões. Dá para dizer que o ser humano tende a se fixar em determinadas atividades, apegando-se a elas de tal forma que não conseguem enxergar valor para si em mais nada. E isso é extremamente perigoso.

Uma boa alternativa são os encontros entre o (a) sacerdote e os demais filhos e filhas da casa num dia à parte das Giras. Nestas ocasiões, é importante discutir a própria organização da casa, melhorias a serem feitas e até outros assuntos. A Umbanda é feita, antes de tudo, por pessoas que a praticam com amor e devoção, não é mesmo?

Outra sugestão importante é gerar encontros recreativos. Festas, comemorações diversas e outras atividades mais lúdicas aproximam as pessoas e permitem até que as famílias dos participantes estejam presentes. Os laços podem se tornar mais firmes e conectados.

Que os sacerdotes tenham o bom senso de não colocar seus filhos e filhas numa “overdose de macumba”. Pois, nessa vida, há tempo para tudo: trabalhar, passear, estudar e também orar. A Umbanda pode ser central em sua vida, mas não precisa ser total.

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