Desvios e oportunidades perdidas: ego e espírito
O texto aqui entitulado como Desvios e oportunidades perdidas faz parte do livro Enquanto Dormes, psicografado pela médium Leni W. Saviscki com os ensinamentos de Vovó Benta. É uma reflexão simples a partir de fatos que provavelmente já ocorreram em muitos Terreiros de Umbanda pelo mundo. Acompanhe!
O Terreiro de Umbanda, como hospital de almas ou pronto-socorro emergencial, recebe uma quantidade razoável de encarnados nos dias de sessão ou “Gira”, mas somente os espíritos que lá trabalham é que podem vislumbrar a imensidão de desencarnados que se movimentam no ambiente, em busca de ajuda.
Naquela noite chuvosa e fria a maioria dos médiuns do Terreiro faltou, ressentidos pela dificuldade de deixarem o conforto de seus lares. O dirigente, preocupado com o atendimento dos doentes que se apinhavam ali, cujo espaço se tornava cada dia menos, ajoelhou-se em frente ao congá e, assumindo sua tristeza diante dos Guias espirituais, deixou correr duas lágrimas para aliviar seu peito angustiado.
Depois, pensou em como havia sido o seu dia e nas atribulações a que já estava acostumado, mas que agora pensava em pouco mais por causa da saúde, que já lhe faltava.
Pensava também nas dificuldades financeiras, no aluguel da Casa, que estava vencido, e nos tantos obstáculos que ocorreram em seu ambiente de trabalho naquele dia. Sem contar na visita que viera de longe e que deixara em casa esperando por sua volta.
Nada disso o impediu de fazer uma prece no final do dia, de tomar um banho de ervas e seguir a pé até o Terreiro, enfrentando o temporal que se avizinhava.
Sentia-se feliz em cumprir sua tarefa mediúnica, mas, como assumira abrir um “hospital de almas” juntamente com outros irmãos que se responsabilizaram perante a espiritualidade em servir à caridade, sabia que sozinho pouco podia fazer.
Pedindo perdão aos Guias pela tristeza em ver o descaso dos médiuns, que à menor dificuldade escolhiam cuidar primeiro de si a servir aos necessitados, solicitou que se redobrassem no plano espiritual a ajuda e que ninguém saísse dali sem receber amparo.
Olhando a imagem de Oxalá, que mesmo ofuscada pelas lágrimas irradiava sua luz azulada, sentiu que algo brilhava bem maior que a lamparina aos pés da imagem. Era uma energia em forma de fios dourados que se distribuíam a partir do coração do Cristo e que cobriam os poucos médiuns que oravam silenciosos, compartilhando do momento e entendendo a tristeza do dirigente.
Agindo como um bálsamo sobre todos, iniciaram a abertura dos trabalhos com a alegria costumeira.
Quando o dirigente espiritual se fez presente através de seu aparelho, transmitiu segurança à corrente, com palavras amorosas e firmes. Nesse instante, falangeiros de todas as correntes da Umbanda “baixaram” e, utilizando de todos os recursos existentes no plano espiritual, usaram ao máximo a capacidade de cada médium disponível, ampliando-lhes a percepção e a irradiação energética, o que promoveu um trabalho eficiente e rápido.
Harmoniosamente, a sessão encerrou-se no horário costumeiro e todos os necessitados foram atendidos.
Desdobrados em corpo astral, dois observadores, descontentes com o final feliz, esbravejavam do lado de fora do Terreiro. Sua programação e o intenso trabalho para desviar os médiuns da Casa naquela noite, no intuito de enfraquecer a corrente e consequentemente infiltrar suas “entidades sem Luz” no meio dela, havia falhado. Teriam que redobrar esforços na próxima investida.
Quando as luzes se apagaram e a porta do Terreiro fechou, esvaziando-se a casa material, no plano espiritual organizava-se o ambiente energético para receber logo mais os mesmos médiuns, agora desdobrados pelo sono.
Passava da meia-noite no horário terreno, e os médiuns, agora em corpo de energia, voltavam ao mesmo local do qual há pouco haviam saído. Seus benfeitores espirituais os aguardavam silenciosos, ouvindo um mantra sagrado. Tudo estava muito limpo e perfumado por ervas e flores. Um a um, ao adentrar, era conduzido a uma treliça de folhas verdes e convidado a deitar-se, recebendo ali um banho de energias revigorantes.
Já preparados, seguiram em caravana para os hospitais do Astral e lá, como verdadeiros enfermeiros, auxiliaram por horas a fio muitos espíritos que momentos antes haviam estado com eles no Terreiro e recebido os primeiros socorros. No final da noite, o canto de Oxum os chamava para lavarem a “alma” em sua cachoeira e assim o fizeram, para somente depois retornarem aos seus corpos físicos e descansarem no leito.
Oportunidades perdidas: quais são elas?
O camboninho e sua turma de amigos assistiam no plano astral à gravação desse episódio em ocasião propícia que lhes foi oferecida, com a finalidade de estudos orientados pelos amigos espirituais.
– Vó Benta, mas… e aqueles médiuns que faltaram ao Terreiro naquela noite? Eles perderam de viver tudo isso?
– Nem todos, filho meu! Nem todos! Alguns deles faltaram por necessidades extremas e não por desleixo e, assim sendo, se propuseram, antes de dormir, auxiliar o mundo espiritual. Por isso foram convidados a fazer parte da caravana.
– Mas e aqueles que, mesmo podendo comparecer, deixaram a preguiça vencê-los, foram aceitos?
– A preguiça, bem como qualquer outro vício, é um atributo do ego e não do espírito, mas que reflete neste. Perdem-se grandes e valiosas oportunidades pela insensatez de dar ouvidos ao ego e suas exigências. O tempo, zifio, é oportunidade sagrada e dele se faz o que bem entende cada um. O minuto passado não retorna mais, pois o tempo renova-se constantemente. O amanhã nos dirá o que fizemos no ontem e esse tempo que virá é nosso desconhecido, por isso não sabemos se ainda estaremos por aqui servindo ou se em algum outro lugar clamando por ajuda de outros que poderão alegar não terem tempo para nós, pois precisam cuidar de suas vidas.
O tempo, enfim, é o que temos a oferecer e dele cada um de nós faz o que julga melhor.
E você? Tem usado bem o tempo que lhe foi permitido viver como encarnado? Conte para nós!