Grafite contra intolerância religiosa na Bahia

Grafite é uma arte urbana, isso a maioria já sabe.

Porém, pode ser também uma ferramenta de resistência.

Assim, após o muro de um Terreiro ser pichado, grafiteiros e candomblecistas se reuniram em ato artístico contra intolerância

E o muro em questão pertence à Casa de Oxumaré, um dos principais Terreiros da Bahia.
Nele foi pichada a frase: ‘Jesus é o Caminho’. O fato chamou atenção no final de 2018 e merece destaque.

Então, dias depois, artistas pintaram elementos do Candomblé no muro do local.

Portanto, o Grafite foi utilizado para protestar contra as pichações de intolerância.

No ato artístico foram realizadas pinturas nos muros do templo religioso, que fica na Avenida Vasco da Gama, em Salvador.

Para os grafiteiros quanto para os candomblecistas, a frase pichada foi um ato de desrespeito às tradições afro-brasileiras e uma tentativa de impor um pensamento religioso único.

Além disso, os artistas e candomblecistas destacam que a Casa de Oxumaré, fundada no início do século XIX, representa não apenas a formação do Candomblé no Brasil.
Mas também um marco pela luta e resistência de africanos escravizados.

Durante o protesto, os artistas de rua pintaram elementos característicos da religião.
Além dos grafiteiros, algumas pessoas do Terreiro também participaram do ato.

“Vamos falar de maneira lúdica e com amor o conceito de respeito.
Queremos trocar alegria, amizade, queremos que essas pessoas se sensibilizem a ponto de não sentir tanto ódio e não queira destruir um patrimônio como esse”, disse a Yákekerê (Mãe Pequena) Sandra Maria Bispo.

Assim, quem chegar na porta do Terreiro já será recebido por Oxumaré, obra de Josivaldo Santos Silva, conhecido como Bigode, que atua no grafite há cerca de 20 anos.

Grafite contra intolerância religiosa na Bahia 1
O grafiteiro Bigode caprichando na imagem de Oxumaré

“Normalmente a gente nunca escolhe.
A gente tem o costume de chegar no local e sentir a energia e deixar fluir.
Quando cheguei, olhei essa parede e pensei: tenho que fazer o dono da casa (Oxumaré)”, contou Bigode.

Para o artista Júlio Costa, que convocou os demais artistas, a ideia da ação surgiu após conversas com lideranças do Terreiro.

Aliás, os grafiteiros que se dispuseram a participar da atividade levaram o próprio material.

“O grafite é um movimento organizado.
Então ele tem fácil difusão entre os praticantes.
Portanto, foi legal porque muita gente disse que viria.
Cada um dos artistas trouxe seu material. É como se fosse o mutirão para ‘bater’.
A gente está nessa ideia de construção”, disse Júlio Costa.

A saber, sobre a pichação em si, o caso foi registrado na 7ª Delegacia, que fica no bairro do Rio Vermelho.

Até agora nenhum suspeito da pichação foi identificado.

Mas o Grafite ‘salvou’ o muro e se interpôs contra a ignorância.

Afinal, e você? Conhece algum caso parecido? Conte pra nós!

Matéria e fotos de Maiana Belo/ G1 Bahia

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