Desequilíbrio mediúnico: como identificar?
Desequilíbrio mediúnico pode ser descrito de várias maneiras. Uma delas, salutar, é quando o médium está em desenvolvimento e ainda não consegue manter a incorporação dentro dos mesmos parâmetros (bons parâmetros) toda Gira. Isso é normal e, com o tempo, a prática se encarregará de prover os ajustes necessários.
O outro lado do desequilíbrio mediúnico se dá quando o médium sabe bem o que está fazendo, mas abusa desta linda parceria com os espíritos, conferindo a eles responsabilidades que não cabem. Exemplos:
Brigou em casa chama o “Exu” para resolver.
Acende uma vela que a entidade chega.
Vai fazer sexo chama a “Pombagira” para participar.
Faz uma festa chama infantil, chama a “Ibejada” para comer bolo.
Faz um churrasco, chama o “Malandro” para beber.
Voltou do bar bêbado chama “Exu”, “Pombagira” e “Malandro”.
Brigou com a esposa (o), chama o “Exu” para resolver.
Ficou com dor de barriga, chama a “Preta Velha” para resolver.
Faz um bolo de fubá com café e já chama o “Preto Velho” para comer.
E mais: a (o) vizinha (o) com problemas pede ajuda que poderia esperar o dia da Gira, mas o médium acha que a questão é fácil, “deixa que eu resolvo”, incorpora em casa e se sente uma espécie de super herói. Ou, quem sabe, quando o desequilíbrio mediúnico beira a insensatez completa, o médium se vê sem nada para fazer e chama as entidades para ficar jogando conversa fora. Às vezes, é até uma desculpa esfarrapada para ficar fumando e bebendo de forma irresponsável.
Esse tipo de desequilíbrio mediúnico pode parecer exagero, ainda mais elencado assim, um absurdo atrás de outro. Mas é inegável que coisas assim ocorrem por aí.
Essa banalização da mediunidade de incorporação na Umbanda é muito perigosa para todos: consulentes, parentes, amigos e para a própria Umbanda. O médium não pode nem deve ficar dependente da espiritualidade para resolver suas questões terrenas. A espiritualidade não pode e nem deve ser usada como muletas.
Alguns, neste momento, podem se perguntar se os Guias se prestariam a este papel desrespeitoso, incorporando aqui e ali sem preparação, sem objetivo, de uma hora para outra, só para satisfazer o ego dos médiuns. A melhor resposta pode ser aquela máxima: ninguém é enganado o tempo todo. Muito menos as entidades.
Assim, os Guias de Umbanda podem sim incorporar nestas situações, seres de Luz, prontos para ajudar. Porém, à medida que o médium exagera e fica evidente o seu desequilíbrio mediúnico, a incorporação vai ficando mais complicada. Alguns podem até mesmo serem alvos de espíritos trevosos, tamanho o desrespeito do médium em situações como esta.
E, segundo relato publicado pela página Conselhos de Preto Velho, estes tais médiuns, quando questionados, respondem:
Ah, mas eu sou desenvolvido!
Ah, mas eu tenho altar em casa!
Ah, mas eu tenho casinha de Exu!
Ah, o que que tem de mais chamar a entidade para dar um passe, dar uma consultinha básica…
Umbanda é religião séria e deve assim ser encarada por todos. As entidades no plano espiritual tem mais o que fazer; elas não estão à disposição dos médiuns ao seu bel-prazer.
O que cabe ao médium resolver aqui na Terra é responsabilidade dele e de mais ninguém. A espiritualidade não é para isso. Ficar usando a incorporação para qualquer coisa só vai trazer mais e mais desequilíbrio mediúnico e prejudicar vidas. Em situações extremas, há relatos de médiuns que tiveram grandes prejuízos materiais e resolvem sair da Umbanda dizendo que foi a religião que lhes causou tudo isso. Esquecem que foram eles mesmos que causaram isso tudo para si.
Umbanda não é bagunça. Mediunidade não é brincadeira. Se você ou alguém que conhece está indo por este caminho, alerte, converse. Se não houver solução ou mudança, o melhor é se afastar. O livre-arbítrio deve ser respeito, mesmo que saibamos que o caminho do outro será difícil e tortuoso.