Cultura brasileira é mais valorizada na Europa
Cultura brasileira é mais valorizada na Europa do que no Brasil.
De fato, a afirmação é da fotógrafa italiana Patrizia Giancotti, que viveu dez anos ao lado de uma Mãe de Santo no Brasil.
Aliás, a antropóloga e fotógrafa italiana também foi colaboradora por muitos anos do escritor Jorge Amado.
Hoje ela tem 60 anos e dedica seus estudos aos poderes femininos das sacerdotisas do Candomblé da Bahia.
Dedica-se também aos estudos das xamãs da Amazônia, comparados aos tempos remotos da mitologia grega.
Assim, para sua pesquisa sobre a mulher do Candomblé, Patrizia morou por uma década na Bahia.
Lá foi onde tomou contato com as religiões afro-brasileiras.
Em 2001, recebeu a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul.
A homenagem foi pelos serviços prestados ao Brasil através do seu trabalho cultural, colaborando também para a divulgação da cultura brasileira.
Atualmente vive na Calábria, no sul da Itália, e é professora na universidade de Milão e na de Reggio Calabria.
Em suma, Patrizia estabelece relações antropológicas entre as mulheres da Grécia antiga e do Brasil em seus estudos.
“Gostei muito de trabalhar a ligação entre a mulher amazonense da Grécia antiga, chamade de “Amazones” pelos escritores gregos e latinos.
Ou seja, mulheres guerreiras, que, segundo a mitologia, cortavam um seio para lançar a flecha com mais facilidade”, descreve.
Desse modo, Patrizia compara as guerreiras da mitologia grega com as mulheres brasileiras.
As mesmas que hoje lutam contra as catástrofes ambientais, como as índias Tuíra do povo Caiapó, e Shirley, do povo Krenak .
Aliás, ela se lembra de um fato ocorrido em 1989 em Altamira, no Estado do Pará.
Durante uma audiência pública para discutir a construção da Usina Hidroelétrica Kararaô, situada em Belo Monte, às margens do Rio Xingu, Tuíra enfrentou o presidente da Eletronorte, José Muniz Lopes.
Inesperadamente, colocou a lâmina do facão em seu rosto.
A saber, Shirley Krenak, membro do Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais, já alertava sobre os perigos da construção da barragem da mineradora Samarco em Mariana antes do desastre.
Analogamente, Patrizia acredita que a cultura brasileira é mais valorizada na Europa do que no Brasil.
“Existem situações muito graves em relação ao Candomblé [e religiões afro].
Mães de Santo sendo apedrejadas ou índios que sofrem todos os dias discriminações.
Assim, essas atividades são reconhecidas como culturais na Europa, o que muitos brasileiros não reconhecem.”
Desta forma, faz parte do seu trabalho despertar o interesse dos estudantes italianos na cultura brasileira.
“Esta é a minha maneira de contribuir.
Assim, temos que fazer o nosso trabalho pelo bem.
Tento descrever para os jovens como é a cultura brasileira, falar sobre miscigenação, esse valor de já nascer misturado como povo.
Minha exposição, ‘Misti si nasce’, aborda as pessoas misturadas desde o nascimento”, diz.
Texto de Gina Marques, correspondente da RFI em Roma, republicado no UOL.