Barco de Iemanjá não terá apoio da prefeitura do Rio de Janeiro

Barco de Iemanjá é uma tradicional procissão feita anualmente em homenagem à Orixá dos mares.

Conforme anunciado pela coluna do jornalista Ancelmo Gois, pela primeira vez em 13 edições, a prefeitura do Rio decidiu não apoiar o evento.

O evento, que ocorre em Copacabana, Zona Sul, é organizado pela Congregação Espírita Umbandista do Brasil (Ceub).

Porém, sem o suporte da prefeitura, está ameaçado de não acontecer.

Assim, a Ceub resolveu promover uma vaquinha virtual na esperança de manter o cortejo, a ser realizado em 16 de dezembro.

Fátima Damas, presidente da Ceub, conta que entrou em contato com a Riotur em outubro deste ano e que foi solicitado que ela aguardasse até novembro.
Mas no dia 23/11 foi informada que o apoio financeiro não aconteceria devido “à falta de recursos financeiros”.

— É muito triste passar por essa situação depois de tantos anos.
Estou meio perdida, pois ficará difícil manter a procissão desse jeito.
A Umbanda não é só religião, é muito mais.
Infelizmente nem todas as pessoas enxergam isso, inclusive o prefeito Crivella.

As cerimônias em homenagem a Iemanjá, declaradas como patrimônio cultural carioca e inseridas no calendário oficial de eventos da cidade, expõem o sincretismo religioso como uma forma de expressão da cultura brasileira.

Geralmente realizada no último fim de semana de dezembro, dessa vez a atividade foi adiantada por causa das festas de fim de ano.
A congregação explica que o Barco de Iemanjá agrega cidadãos de diferentes identidades religiosas e promove uma ação efetiva contra à intolerância religiosa.

Fátima conta que o apoio recebido para o cortejo variava entre R$ 30 e R$ 40 mil.
E que este dinheiro sempre foi utilizado para o aluguel dos ônibus que buscam as pessoas nos Terreiros, das Tendas e dos geradores.
Além disso, serve para compra das flores e frutas que são distribuídas às pessoas no dia do evento.

Até o momento, pouco mais de R$ 4 mil foram arrecadados com a vaquinha, bem abaixo do necessário.

— Para manter todas as ações realizadas no dia do evento, preciso de, no mínimo, R$ 20 mil.
Com essa quantia, nós reduziríamos a quantidade, mas sem deixar de promover a festa.
Mas sem verba nenhuma fica praticamente impossível.
A procissão tem quase 40 balaios de flores, é linda.
As pessoas contam com esse dia, vem gente de todos os lugares.
Estão todos indignados com a realidade do Rio.

Segundo a Riotur, em função da crise financeira que atinge a cidade, as verbas estão sendo priorizadas para as áreas de Saúde e Educação.

Em relação aos eventos, a instituição destaca que os maiores esforços estão sendo destinados ao Réveillon e ao Carnaval.

Sobre os demais, a Riotur segue em negociação em busca de soluções para a viabilização, incluindo o Barco de Iemanjá.

Líderes religiosos lamentam decisão

O babalaô Ivanir dos Santos destaca que essa decisão é um ato claro de discriminação.
E que não muito diferente, segundo ele, do que a prefeitura vem fazendo com o Carnaval, outra festa que envolve a identidade afro-brasileira e remete a lembranças religiosas.

— É inegável que há uma segregação cultural.
Segundo a concepção da Igreja Universal, a qual Marcelo Crivella é membro, há uma demonização das religiões africanas — diz.

Ele lembra que a famosa festa de Réveillon que se conhece hoje no Rio de Janeiro deve muito aos umbandistas.
Segundo Ivanir, muitas tradições da virada do ano, como, por exemplo, vestir-se de branco, pular sete ondas e depositar flores no mar, têm origem nas religiões de matriz africana, e que isso não pode ser “esquecido” pela prefeitura.

Vice-presidente do Movimento Umbanda do Amanhã (Muda), Marilena Mattos participa todos os anos do Barco de Iemanjá.
Ela diz que os umbandistas estão unidos para que o evento seja realizado normalmente no dia 16.
Para ela, o prefeito Marcelo Crivella não pode usar a sua religião para ofuscar todas as outras.

— Junto ao aspecto financeiro, há uma posição religiosa a favor de que não haja o evento.
Estamos sendo esmagados por esse poder religioso da atual administração pública.
Isso nos entristece. É um evento tradicional no Rio e, infelizmente, vivenciamos esse desrespeito à laicidade.
Essa última decisão foi mais um degrau nessa escada.

O babalorixá Anderson de Osagyan também faz uma homenagem à Iemanjá há mais de dez anos, na praia da Urca.

Ele acredita que há um ataque implícito da prefeitura contra as religiões de matriz africana.

Anderson destaca a importância do evento dentro do cenário turístico do Rio, atraindo pessoas que gostam e simpatizam com a festa.

— Estamos perdendo o direito de nos manifestar.
É notório que o prefeito pegou uma questão particular e deixou que isso influenciasse a administração da cidade.
Não se pode negar que a Igreja Universal odeia as manifestações afro-religiosas.
Precisamos ir às ruas, não podemos nos calar e temos que defender nossos direitos — destaca.

Que ajudar o Barco de Iemanjá a continuar?

Faça sua colaboração na vaquinha virtual AQUI.

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