Espiritualidade e Medicina

Espiritualidade e medicina dão passos juntos na mesma direção. Esta união ganha espaço nos hospitais e colabora para que pacientes fiquem menos ansiosos e depressivos e apresentem recuperações menos dolorosas.

Um dos recursos usados para medir o nível de dor física é um cartaz por meio do qual o paciente aponta, em uma escala, qual das figuras representa a intensidade do desconforto.

No hospital americano NewYork-Presbyterian, algo semelhante começou a ser utilizado também para aferir o tamanho da dor, só que espiritual.

Um cartão muito parecido com o adotado para a indicação da sensação física está auxiliando doentes da UTI da instituição a transmitir se e quanto estão sofrendo espiritualmente e o tipo de auxílio que desejam.

A iniciativa faz parte de um movimento que se fortalece e que prevê a adoção de cuidados com a espiritualidade. Espiritualidade e medicina, juntas, produzem benefícios importantes para a saúde.

“Encarar uma doença grave afeta nossa relação com Deus, e nossa relação com Deus afeta a maneira como encaramos a enfermidade”, disse o pastor Joel Berning, capelão do New-York-Presbyterian.

“O suporte espiritual ajuda ao trazer significado, propósito e transcendência ao sofrimento.”

O pastor Berning trabalha com os intensivistas. Sua atenção é mais focada nos pacientes conscientes, mas impedidos de falar por estarem sob ventilação mecânica.

Assim, apontar no cartaz a figura que melhor representa o nível de sua dor espiritual e receber auxílio – uma prece, por exemplo – significa para a maioria um grande alívio.

Um trabalho feito pelo capelão e o médico Matthew Baldwin deixou isso claro.

“A ansiedade dos pacientes caiu mais de 30% imediatamente após a consulta sobre a espiritualidade”, disse.

E continuou: “depois da alta, 81% dos pacientes disseram que a assistência espiritual tornou a hospitalização menos sofrida.”

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BRASIL – As instituições brasileiras adotam a tendência aos poucos.

“Quando o paciente é indagado sobre suas questões espirituais, percebe que o médico está preocupado com ele, não apenas com seu diagnóstico”, diz o médico Thiago Branco, do Hospital Paulistano, em São Paulo, onde é aplicado um projeto parecido com o americano, com a participação do capelão profissional Robson Pedroso.

“Mesmo com um ateu, é possível trabalhar a espiritualidade e medicina, seja na maneira como ele enxerga o universo ou no que ele acredita”, explica Robson.

Diagnosticada com câncer de mama em 2016, Francisca de Almeida beneficiou-se com a assistência.

“Fiquei menos ansiosa.”

As evidências científicas do impacto positivo na saúde do cuidado com a espiritualidade e medicina são muitas.

Sabe-se que há efeitos sobre substâncias associadas ao bem-estar, como a serotonina e a endorfina, resultando na redução da depressão e da ansiedade.

“Além disso, há maior aderência ao tratamento”, afirma o oncologista Felipe Moraes, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Ele é co-autor de uma revisão de estudos a respeito do assunto cuja conclusão foi a de que 85% dos pacientes tiveram melhora na qualidade de vida.

“Resultados assim mostram que a atenção deve fazer parte da rotina dos tratamentos”, defende o médico Valdir Reginato, da Universidade Federal de São Paulo.

O QUE DIZ A CIÊNCIA

Entre os principais efeitos da prática da espiritualidade sobre a saúde estão:

• Menores índices de depressão e de ansiedade
• Maior resistência à dor
• Maior aderência ao tratamento
• Maior comprometimento com hábitos saudáveis

Texto adaptado do original “Medicina para a alma”, publicado pela revista Isto É

Foto: O médico Felipe, da Beneficência Portuguesa, um dos estudiosos do tema no Brasil (Crédito: Marco Ankosqui/Reprodução/Isto É)

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