Umbanda não cobra, mas alguns…
Umbanda não cobra é uma das primeiras coisas que ouvimos quando entramos num terreiro umbandista pela primeira vez, seja como consulente ou como parte do corpo mediúnico. A máxima é: Umbanda não cobra pelos atendimentos.
Posto isso, somos alertados ainda por alguns sacerdotes conscientes de sua missão que não se cobra absolutamente nada, não importando o trabalho de atendimento ou recursos necessários para tal.
Porém, antes de continuar essa reflexão – e para não ouvir de alguns que nem tudo pode ser tratado assim – é importante dizer os cursos oferecidos pelo terreiro, que não podem ser confundidos com os trabalhos realizados na gira pública de trabalho, podem sim ser cobrados. Aliás, é assim que muitos terreiros sobrevivem. Há também terreiros que realizam rifas, fazem pequenas vendas de materiais como velas, incensos, etc., tudo para angariar recursos para sua manutenção (e tudo isso, diga-se, é legítimo).
Mas, ultimamente, venho percebendo que algumas novas roupagens de trabalhos estão surgindo aqui e ali. Vou chamar assim (roupagem) para não ter que dizer que há algo absolutamente nefasto que vem acontecendo com alguns sacerdotes em muitos e muitos terreiros por aí.
Há até um certo modus operandi: começam como terreiro de Umbanda (fazem questão disso). Dão logo um nome aos seus referidos terreiros, nomes que costumam homenagear um Preto Velho ou uma Preta Velha ou também um Caboclo ou Cabocla. E pronto: já iniciam seus trabalhos caritativos. Passado algum tempo (e com as dificuldades de se manter um terreiro de Umbanda), mas também e principalmente a querência de se viver da Umbanda financeiramente, muitos logo mudam a nomenclatura.
Começam então a fazer trabalhos que não são da Umbanda e sim do Candomblé (isso quando não misturam tudo). Historicamente sabemos que a cobrança por trabalhos no Candomblé é secular, quanto a isso não cabe a discussão neste momento. No entanto, muitos destes trabalhos que estes tais sacerdotes de Umbanda se dispõem a fazer se valem de ritos do Candomblé que, na maioria das vezes, se mostram sem fundamento algum, pois são sacerdotes de Umbanda!
A suposição – quase sempre demonstrada na prática – é a de que sacerdotes de Umbanda pouco ou nada sabem sobre a complexa ritualística do Candomblé, suas iniciações, feituras e seu milenar conjunto de conhecimentos. Assim, ao tentar misturar religiões, acabam fazendo uma terceira coisa que não é Umbanda e também não é Candomblé.
Mas sempre há aqueles que querem se defender disso, dizendo que aquele sacerdote quer viver disso e, portanto, logo justifica a cobrança e os tais trabalhos realizados, pois apesar de ser da Umbanda, estão realizando um trabalho de “Candomblé” (e aí sim se pode cobrar).
Afinal, Umbanda não cobra ou não é bem assim?
A justificativa é, para dizer o mínimo, tosca. É algo que não se sustenta além de ser uma postura que todos os umbandistas notarão como algo incomum. Umbanda não cobra por atendimentos e os que o fazem estão sujando o nome da nossa religião, usando inapropriadamente o nome do Candomblé e, ainda por cima, sem nenhum amparo espiritual. São espertos querendo tirar dinheiro da fé alheia. Já ouvimos falar muito disso. Não entrem nessa!
O texto acima foi escrito por Marcos Barbosa, advogado, psicanalista, ator e dramaturgo, umbandista há mais de 20 anos e enviado para nós para possível publicação. Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Umbanda Eu Curto (embora sejamos favoráveis à prática caritativa da Umbanda nos terreiros como um padrão). Também acreditamos que é necesário evitar a mistura de rituais do Candomblé com a Umbanda, pois essas práticas podem levar a um desvirtuamento perigoso do que é praticado nos terreiro, além de confundir a consulência no dia a dia.