Umbanda e sexualidade: há regras para isso na religião?

Umbanda e Sexualidade é um assunto que requer muita atenção sob vários aspectos. Recebi certa vez uma pergunta sobre sexualidade e procurei responder de forma direta no decorrer de um curso. Mesmo assim, continuei refletindo sobre a questão e acabei por escrever um texto mais completo sobre o assunto. Abaixo mantenho a pergunta que o aluno me fez e, em seguida, a resposta e o texto.

Pergunta do aluno: “Um amigo meu disse que só não frequentava a Umbanda porque ele via que ‘todo Pai de Santo era gay’. Longe de concordar, discordar ou iniciar uma discussão sobre a pertinência da afirmação, pergunto: A alma tem uma qualidade masculina ou feminina? Que explicação a Umbanda dá à homossexualidade/homoafetividade/transexualidade?
A Umbanda acredita na possibilidade de um ser dual, como uma gradação entre estes dois polos?”

Minha resposta: Sobre este tema – Umbanda e sexualidade – não existem pré-requisitos de opção sexual para se exercer o sacerdócio umbandista (“Pai de Santo”, “Mãe de Santo”, dirigente, comandante, cacique, padrinho, madrinha, etc.), assim como não há relação entre a orientação/identidade sexual e a mediunidade. Umbanda e sexualidade não são possuem uma regra fixa.

Portanto, estabelecer qualquer conceito entre sacerdócio e sexualidade (como também entre Umbanda e sexualidade) é algo preconceituoso. Alguns espíritos têm uma natureza masculina e estão em corpos femininos; outros têm natureza feminina em corpos masculinos. Não existe um ser “dual” em sua natureza ancestral. Há sim pessoas que independentemente de sua natureza se atraem, se relacionam, trocam carinho e amor com pessoas de ambas as naturezas e sexos.

Ou seja, podemos definir o sexo (biológico), o corpo (soma), como masculino ou feminino, independentemente da natureza do espírito, da alma (ancestral), que também é masculina ou feminina. O mais comum é que espíritos de natureza feminina encarnem em corpos de natureza feminina e que corpos de natureza masculina encarnem em corpos de natureza masculina. Mas também é possível encarnar em corpos com o sexo diferente de sua natureza. Ou seja: espírito de natureza feminina encarnado em corpo masculino e espírito de natureza masculina encarnado em corpo feminino.

Assim, podemos verificar que há mulheres com natureza masculina e homens com natureza feminina. Partindo deste princípio, é bem natural e fácil de entender que há mulheres de natureza masculina que se atraem por outras mulheres de natureza feminina. Umbanda e sexualidade, como veem, não exigem algo estanque e imutável.

Por sua vez, há homens de natureza feminina que se atraem por outros homens de natureza masculina. No entanto, há mulheres de natureza feminina que se atraem por outras mulheres de natureza feminina. E há também homens de natureza masculina que se atraem por outros homens de natureza masculina. Inegavelmente parece complexo (mas não é e nem deveria ser).

Há pessoas que não se atraem apenas por uma questão sexual de polaridade. Acima de tudo, as pessoas também são atraídas por sentimentos de afetividade, admiração e sensualidade. Muitos amam e querem trocar amor, carinho e convivência com outras pessoas, independentemente do sexo ou de sua natureza.

Quanto aos rótulos de homossexual, homoafetivo, heterossexual, transexual e outros são apenas títulos utilizados na tentativa de classificar o comportamento humano.

Enfim, para este tema Umbanda e sexualidade o que importa é o amor, o sentimento, o carinho, a afetividade, a convivência e, claro, o respeito. O vício sexual, a obsessão e o desequilíbrio em nada têm a ver com a natureza ou o sexo, mas sim com a promiscuidade, a vulgaridade, a banalização do sexo e a falta de amor nas relações.

O que a Umbanda considera desequilíbrio é o vício sexual, a obsessão sexual, a promiscuidade sexual, a vulgaridade sexual e a banalização do sexo. Na Umbanda são tratadas a falta de amor, as carências afetivas e os traumas que bloqueiam a fluidez desta energia.

Para a Umbanda, desequilíbrio sexual é, apenas, a agressão sexual para si ou para o outro.

Antinatural é a falta de amor e de respeito que deve haver entre duas pessoas se relacionando. Aliás, quantas mulheres foram agredidas por homens em que confiavam e que deviam lhes dar amor como seu pai, seu marido, seu irmão, etc?

Quantos homens foram agredidos, em seus sentimentos, pelas mulheres que confiavam para dar e receber amor? Quantos casais, homem e mulher, vivem debaixo de um mesmo teto sob a agressão e a mentira?

Quantos homens ou mulheres são assexuados e isentos de afeto com suas companheiras (os) e buscam fora do casamento outros tipos de relação desequilibrada, justamente por estar oculta na mentira e reprimida em sua imagem social?

Estas são algumas situações que criam traumas e bloqueios emocionais em seres humanos que continuam precisando de amor e carinho. Sem verdade e dando vazão a uma sexualidade reprimida de forma escondida, seja homo ou hetero, é criada uma separação dentro do ser e isto sim é um desequilíbrio. Isto sim é a porta para o vício e a agressão, e não nenhum aspecto que possa ser suscitado entre Umbanda e sexualidade.

Portanto, precisamos de mais educação e menos repressão, mas não apenas educação sexual e sim educação afetiva. Deveríamos aprender em casa como tratar com carinho quem a gente ama, aprender que sexo é amor, aprender a trocar energia de forma saudável, pois a repressão sexual é a grande responsável pela pornografia agressiva e desequilibrada.

Aliás, é a mesma que predominou nas salas escondidas dentro das locadoras de vídeo, tão cobiçadas por adolescentes que nada sabiam sobre o assunto e que acreditavam estar aprendendo algo com aquilo.

O que é a melhor coisa do mundo? A melhor coisa do mundo é a verdade! Seja sobre Umbanda e sexualidade, seja sobre qualquer outro tema!

Melhor viver sua verdade, seja ela qual for, que viver uma mentira social. É certo que o peso do preconceito na sociedade cria uma sombra pesada para todos que não se encaixam dentro do modelo predominante. Todo aquele que reprime algo no seu semelhante tem estas mesmas qualidades reprimidas dentro de seu ser.

Então, deste conflito interno vem o medo, quase inconsciente, de ser descoberto em sua intimidade oculta e a vontade de agredir o outro como fruto deste medo. O que é bom e faz bem ao ser humano é amar e ser amado de uma forma saudável. Então, onde, como e com quem, é da conta apenas de quem está amando e ninguém além de você mesmo pode saber onde encontrar este amor. Todos são livres para trocar carinho e afetividade, que faz bem para a saúde emocional, psicológica, hormonal e afetiva.

E esta é a verdade sobre Umbanda e sexualidade!

Afinal, o amor não tem sexo, a alma tem uma natureza, mas somos todos livres para trocarmos amor com quem queiramos. Quem ama não agride!

Foto: Dainis Graveris/Pexels

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