Hierarquias na Umbanda, Poder e Mistério

Hierarquias na Umbanda é um tema que gera múltiplas interpretações na religião.

A saber, todas as religiões nascem de experiências humanas, individuais, com o sagrado.
Além disso, elas se ligam ao êxtase inexplicável de acesso ao centro do mistério, inacessível a quem se encontra na periferia, longe do transcendente.

Assim, ao contar esta experiência surge a religião, a teologia, mitos, ritos e mistérios derivados do mistério maior.

Então, com todas estas informações, para mantê-las, manipulá-las, dominá-las e monopolizá-las surgem as hierarquias verticais.

Dessa forma, todo um corpo sacerdotal bloqueia ou dá acesso a estes mesmos mistérios.

Como resultado, sua atitude de proteção, manutenção e preservação dos mesmos é também uma forma de barreira para que os adeptos não cheguem ao “centro” (do mistério) e não produzam teologia.

Assim, aquele que chega ao âmago da experiência mística religiosa tem acesso direto ao sagrado.
Igualmente, liberta-se de todas as formalidades, hierarquias e subterfúgios.

Mas como nem todos são iguais, nem todos vão ao centro, nem todos querem profundidade ou mergulhar no desconhecido de si mesmo.

Portanto, necessitamos de um caminho do meio que permita formas diversas de relacionar-se com o sagrado em uma mesma religião.

Assim, a chave é a “maturidade religiosa”.

Ao passo que esta é fundamentada na razão do que se crê com seus porquês e uma consciência crítica distanciada do fanatismo ou fundamentalismo.

De fato, é dito que Jesus anunciou seu Reino dos Céus e seus “discípulos” criaram Igrejas e hierarquias para monopolizar o acesso ao mesmo.

Assim, repetiram a mesma ideia dos fariseus que, pobres deles, não entram e não deixam entrar, no Reino dos Céus.

Pois são hierarquias criadas da vaidade, da arrogância, da ganância, do ego disfarçado de santo, lobo em pele de cordeiro.

Assim sendo, as hierarquias mantém com um poder efêmero, no qual se esforçam para manter o seu status de detentora da verdade.
Como se fossem lugar de conforto e acomodação, no qual muitos se encontram com olhos, ouvidos e boca tapados.

Portanto, um dos objetivos do estudo teológico é dar acesso a todos.
E mais: justamente aos que historicamente os sacerdotes bloquearam para deter um “poder” dito oculto ou se preferir esotérico.

Supostamente, poder de acesso ao mistério que se encontra no centro do sagrado, a essência da religião, a chave de acesso místico ao êxtase e a magia.

Em contrapartida, é preciso esclarecer que na Umbanda, é valida a hierarquia horizontal.
Nela, um adepto preparado por um sacerdote se torna igualmente sacerdote, que mantém com o primeiro uma relação de respeito filial espiritual.

Desse modo, quanto mais filhos preparados por um sacerdote, maior a expansão horizontal em que todos comungam do mesmo poder e mistério.

Pois na Umbanda a experiência direta com o sagrado é inevitável aos que se identificam médiuns.

No entanto, muitos encontram barreiras de acesso à informação como forma de manipulação e dominação.

De fato, por ser uma religião nova quer dizer que estas mesmas experiências ganham um novo significado à luz de uma nova época.
Nesse sentido, a cultura própria, o transe, a possessão, o êxtase, a mediunidade ou qualquer outra forma de transcender a matéria é algo humano e natural.
E ganha sentido de acordo com a forma que cada um tem para explicar.

Portanto, quanto maior o sentido, maior o número de adeptos e seguidores do que vai se tornando uma doutrina religiosa com as tão comuns formalidades, mitos e dogmas.

Assim, quando alguém tem um discurso voltado a bloquear o acesso à informação e o estudo aberto a todos na Umbanda, podemos e devemos analisar o porquê desta atitude e perfil.

Afinal, o que faz um umbandista ser contra o acesso à informação?

Dessa maneira, seguem algumas hipóteses prováveis e “qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência”:

  1. Querem se manter detentores de um falso e efêmero poder.
  2. Querem manter uma relação de dependência com os adeptos.
  3. Querem ser reconhecidos como eleitos, “chamados”, privilegiados que escolhem a dedo os poucos que poderão se tornar como eles.
    Afinal são muitos chamados e poucos escolhidos.
  4. Querem desmerecer o trabalho alheio.
  5. Querem fazer valer a ideia de purismo e verdade; apenas a sua pratica é pura, verdadeira e valida.
  6. Querem continuar em sua posição de acomodação, confortáveis na própria ignorância ou fechados em seu eruditismo, prolixos, de uma pseudo-sabedoria.
  7. Querem e gostam de exploração emocional, psíquica e material do outro que “come em sua mão”, o que lhes dá um repugnante orgulho do falso status.
  8. São criadores e mantenedores da hierarquia do medo, forçando uma situação do amor e admiração tão naturais entre sábio e aprendiz, mestre e discípulo, dentro de uma relação madura na espiritualidade.

Mas para frustração de alguns e realização de muitos outros, nada como um dia após o outro, uma geração após a outra.

Pois a Umbanda é uma religião que tem por base a manifestação mediúnica, na qual cada adepto é em si o templo do mistério maior e sacerdote do sagrado que habita e manifesta em si mesmo.

Umbanda é por isso a mais aberta e universal das religiões conhecidas.
Igualmente, é uma doadora de poder e uma das poucas em que as chaves de acesso direto ao centro místico deste poder ainda estão à disposição de quem se permitir entregar-se ao transcendente, que sopra onde quer.

Por isso aqui vale uma outra máxima:

“Todos são chamados, escolhidos são os que se dedicam”.

Afinal, quem não incorpora, camboneia; quem não camboneia, toca; quem não toca, canta; quem não canta, dança…

Hierarquias à parte, tudo aqui deve ser muito mais horizontal.

Por fim, todos dançam, todos vibram.
Todos participam do sagrado com seu poder e mistério.

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